15.9.21

A Gaffe quintinada

Wolf Ademeit

A Gaffe considera que retirar a possibilidade de ficar maravilhada ao ver as borboletas frágeis que batem asas nos comentários que vai lendo e ouvindo por aí, é uma barbaridade. Uma criatura tem o direito de se espantar de quando em vez com o lado negro da força e de se sentir uma deusa ao imaginar o cérebro dos que originam estes deslumbres que, embora macabros, não deixam de nos apontar a dimensão que pode atingir o buraco negro onde vastas vezes se enfia parte da humanidade.

Exactamente por tal, a Gaffe está solidária com Quintino Aires que alia ao que tem dito as novíssimas referências às bichas desocupadas que desfilam naquela marcha da vergonha onde vão, na sua grande maioria, meios nus a lamberem-se todos. A seguir, aumenta o número de infeções e as instituições preparam-se para isso.

Este menino é um ídolo. Um dos maiores fornecedores de embasbacamentos. Vai e vem, vem e vai, e neste ir e vir entrega ao povo uma surpresa.

Para além de considerar que andar atrás das galinhas e das cabras e das vacas com intuitos menos cavalheirescos, com intenções menos próprias, com impulsos mais libidinosos - sem sequer as levar primeiro a jantar e descartando a elegância de lhes telefonar depois a dizer como foi importante aquela noite à luz da lamparina campestre -, consubstancia uma comunhão com a natureza, Quintino Aires acredita que são os ciganos, a esmagadora maioria da ciganagem, a traficar droga e a esbardalhar esquinas com as costas preguiçosas e manhosas e que são as bichas que desocupadas incomodam as nossas venerandas Instituições.

A Gaffe, como é sabido, é chique. Não se aproxima dos ciganos. Tinha escolhido mesmo a plataforma SAPO para albergar as suas elegantes divagações exactamente pelas razões que se adivinham e como criatura elegantíssima que é, só trata da maquilhagem do nariz na Linha, porque é evidente que o pó da Comporta é muito mais fino e trabalhado.

Desconhece portanto os negócios do povo nómada que nem sequer sabe traçar um turbante em condições e que não distingue um tapete Balúchi de um Gabbeh, porque os rouba sem qualquer critério estético. Não lhe interessam os pobres que vivem em tendas cobertas por lonas, sem qualquer intervenção de Gracinha Viterbo, e que permitem que 75% da sua comandita engane as pessoas civilizadas com porcaria dos chineses.

A Gaffe acredita também que conhecer biblicamente uma galinha ou uma ovelha, não é de todo a imagem que se lhe depara de uma noite badalhoca no Hilton, mas já admite que uma vaca não é de estranhar nestas posições, tendo em consideração a quantidade de bovinos que por lá vão passando. Quintino Aires provavelmente referia experiências passadas que eventualmente lhe foram narradas por um ou outro paciente seu, muito ecológico e mentalmente em comunhão com a Mãe Natureza que tanta gente diz ser uma cabra.   

Tendo em conta a profissão do seu rapagão e tendo-o já apanhado com o braço enfiado até ao cotovelo no pipi de uma vaca, a Gaffe vai prestar mais atenção às mensagens e aos contactos no telemóvel do homem.

No entanto, a Gaffe admite que fica muitas vezes assustada com Quintino Aires.

O maravilhoso profissional de psicologia afirmou que quem fuma charros em demasia - ou coisa que o valha, porque nestes casos há fogos sem fumo -, sobretudo os vendidos pelos ciganos, mais cedo ou mais tarde acaba na cama com uma pessoa do mesmo sexo. Com grandes hipóteses de ser com o dealer - a Gaffe acrescenta, pois, tal como ela, toda a gente de bem conhece a tendência que estas criaturas têm para a vida fácil.

O susto ficou acoplado às dúvidas existenciais que a assolaram de imediato:

 - E o inverso?

- Será que uma rapariga que vai para a caminha com outra, caminha em direcção à droga? Será que cedo ou tarde ilustrará o título da obra de Miguel Sousa Tavares transformando-se nu’ Madrugada Suja?  

- Será que um rapaz que acaba na cama com outro numa Sexta-feira à noite vai na manhã seguinte injectar morfina na pila? Ou será que aproxima o rabo de uma linha de coca só para se esquecer como lhe dói a vida?

São questões pertinentes e deveras preocupantes que devem ser esclarecidas por Quintino Aires numa das suas próximas aparições no programa de Cristina Ferreira, já que Goucha provavelmente estará no camarim todo mocado.

A Gaffe está surpreendida com o linchamento público de Quintino Aires que desta vez se refere a uma bicha desocupada que conseguiu levar à Assembleia da República o debate sobre a discriminação dos homossexuais na doação de sangue.

Irrita imenso perceber que quando uma criatura diz o que pensa com a perspicácia desempoeirada, com a argúcia e objectividade construídas com o saber e com a experiência deste emérito psicólogo, é trucidada por uma matilha de esfomeados.

Perante Quintino Aires somos todos como o Velho do Restelo. Tentamos impedir que as naus abram caminho na lauta ignorância do populacho. Por muito que a barcaça abane, seria de esperar que o farol brilhasse apontando o rumo e proclamando sem teias ou véus os nojos de gentalha que nos enche os jardins dos hospitais quando um dos membros é internado e que nos polui com ossos de frango e cascas de bananas as gardénias em flor e a relva aparada na véspera ou ainda por uns desempregados que acreditam que a promiscuidade não é como a ciganada e não faz crescer bicharada no sangue.

Meu querido Quintinito - permita que o trate assim, pois que tem mais salero, - o menino tem toda a razão e se mais houvesse sua seria. A ciganada é propensa a tráfego de droga, a mendicidade, a gatunagem e - livre-nos Deus - bate nas pessoas a troco de algumas migalhas; Não se sabe vestir – o look hippie-choc nunca foi tendência digna de gente de bem, - e lê a sina – pormenor que o menino faz muito melhor e de um modo obviamente profissional quando nos deslumbra com as suas análises a concorrentes com cérebros enfiados no rabo da Cláudio Ramos ou analisa de modo profundíssimo e altamente qualificado casos que o Goucha vai desenterrar nos esgotos da miséria humana e que aparecem documentados num slide e num slogan pregado na lapela da falta de ética.

A Gaffe deve no entanto anotar que não simpatizou ao ouvi-lo dizer que fazer sexo com animais aumenta a ligação entre o ser humano e a natureza.

A Gaffe desconhece se o menino vive numa quinta inclinada a místicas comunhões com o Todo Natural e que em consequência compreende as suas elevações e flexibilidades ecológicas, mas confessa que ficou um bocadinho incomodada tendo em conta que o rapagão que a acompanha, como se refere, é muito dado à terra e ao trato de animais, vive no Minho - província infestada de bicharada - e tem uma plantação de bois e de vacas. Sabe, para seu descanso, que o rapagão é um cavalheiro e que não se envolveria com nenhuma cabra ou nenhuma vaca sem pelo menos as levar a jantar a um desconserto e a um concerto do Libarece - ao contrário de imensos ciganos, - mas, como referiu, a celebração das nossas origens é sempre um evento a que raros faltam. Todo o cuidado é pouco. Estamos descansadas a ler a Vogue e PUMBA! somos traídas com uma porca, uma vaca ou uma cabra - não faz ideia como isto é recorrente!  A Gaffe tem apenas de se lembrar que deve proteger a Chihuahua que lhe ofereceram. A bichinha é ainda muito jovem e pura e a Gaffe receia que o menino aproveite para tratar, como disse e muito bem, a patologia social que é ser-se virgem, afastando dessa forma prejuízos para a saúde pública.

A Gaffe aproveita o lanço e congratula-se ainda por o ouvir a proibir ou a desaconselhar as mamãs a ministrar aos rebentos o que foi prescrito pelos médicos. Haja bom senso! Haja contenção! Afinal basta o Quintino Aires para nos provar que a falta de medicação na infância, é perfeitamente capaz de produzir psicólogos.

Meu querido Quintinito, a Gaffe lamenta apenas que não tenha unido às características tão bem enunciadas destas gentalhas horrendas, o facto de serem POBRES. São gentes pobres e não adianta referir a chuto de bola o Quaresma, porque ser pobre também é vestir uns calções pretos pelo joelho, uma camisa estampada e justíssima, desenhar palermices no cabelo e chegar a um evento nestes preparos e ainda por cima acompanhado por uma senhora muito apertada, que dobra o joelhinho e levanta o pé quando é fotografada e, miséria, com um cabelo de guetho.

 

A Gaffe está surpreendida com o linchamento público de Quintino Aires por se ter referido a uma bicha desocupada que conseguiu levar à Assembleia da República o debate sobre a discriminação dos homossexuais na doação de sangue. Uma hipocrisia! Toda a gente sabe que uma bicha desocupada é pior do que uma senhora negacionista da corneta e megafone.  

Não tema represálias desta gente perigosíssima. Uma bicha desocupada é, tal como um cigano, muito supersticiosa e dizem que também não se aproxima de sapos. Pode portanto ficar seguro, descansado, e continuar a deslumbrar-nos com os seus poderosos comentários.

Querido Quintinito, o menino persista. O menino apareça. O menino continue. O menino comente. Vai ver que se transforma a muito breve prazo numa pequenina espécie de Trump da psicologia e faz do original um poço de elegância intelectual.