19.10.21

A Gaffe vindimadora


Foram dias longos e telúricos.

Para uma rapariga que até há bem pouco tempo pensava que se pisavam as uvas com os pés, de pernas nuas e de braços dados, apenas para tonificar os músculos, é sempre incómodo. Fica-se com a sensação de futilidade, frivolidade, completa ignorância e inutilidade que nos assarapanta sempre que nos encontramos com o Douro.

Creio que sou demasiado urbana e poluída para me embrenhar nas andanças da terra. Evidentemente que a minha aversão à paisagem que não inclua pelo menos um elemento humano de tronco nu e pernas de aço, é completamente ignorada.
Passei longos dias a olhar para os poderosos e graníticos homens que de esguelha me observavam com ar condescendente, guiando tractores rancorosos, e as noites a passear pelos corredores de uma casa assombrada onde até os retratos são pesados.

Para agravar todo este cenário, reconheço que no Douro o meu pobre glamour não passa de uma asneirita tonta de uma miúda com peneiras.


Só espero que esta seja a altura de mandar os rapazes arrancar as silvas (?) dos trilhos (?) das ramadas que consigo ver do meu quarto. Gosto de braços arranhados e de mãos picadas, de troncos vergados e músculos retesados, de camisas apertadas e de calças seguras por um baraço ou por cintos a cheirar a couro velho e dos sorrisos tímidos dos mais jovens faunos.

Seja! Reconheço:
Esta terra tem os seus encantos.