Era uma mulher jovem, de busto anafado, apertado em camisolas justas de malha com borbotos. Camisolas coloridas. Verdes bandeira, vermelhas sanguíneas, amarelas solares, azuis de mar de Verão. Camisolas a contradizer o sorriso mostarda - sinistro por não se ver nos olhos -, com que barrava o caminho quando lhe perguntavam se estava à espera de vez.
Via-a todas as tardes sentada de saia travada a compor os joelhos descobertos, de camisola berrante a apertar o busto roliço, a sorrir mostarda quando lhe perguntavam se esperava a vez.
Sempre calada. Sempre à espreita.Vinha com uma criança que sentava durante três horas ao seu lado. Uma menina de pouco mais de quatro anos de camisolas tristes, sem bandeiras e sem sóis desbravados. Camisolas só com borbotos.
Durante três horas as duas sentadas, uma a fazer os olhos sorrir em desafio imbecil e a outra a desafiar a imbecilidade de ficar ali a entristecer, esperavam o homem.
O marido, requalificado pelo governo aos cinquenta anos, ficava-se durante as três horas que durava a tarde atrás do balcão a requalificar-se. Era um homem magro, alto, curvo como a piedade, de óculos que a desilusão embaciava e tornava redondos como é de esperar das desilusões que nos ajudam a ver.
Pedi-lhe um dia para evitar que a mulher o esperasse ali, com a filha triste que enrolava nas horas os desenganos precoces. Disse-me que tentou. Não conseguiu. A mulher e a filha continuaram a vir todas as tardes. Sentavam-se e esperavam que o homem se requalificasse.
Proibi.
Dias depois do meu decreto irrevogável que as impedia de esperar, encontrei em cima do capot do meu carro um pão seco, empedernido, sujo e com uma mecha de cabelos nauseabundos espetados naquela pedra de centeio. Ao tentar com uma folha de papel levar o nojo ao lixo – ai, menina que é bruxedo! -, vi, escondidas, a mulher de camisola berrante com borbotos com a criança agarrada à saia travada compostinha nos joelhos.
Pedi-lhe um dia para evitar que a mulher o esperasse ali, com a filha triste que enrolava nas horas os desenganos precoces. Disse-me que tentou. Não conseguiu. A mulher e a filha continuaram a vir todas as tardes. Sentavam-se e esperavam que o homem se requalificasse.
Proibi.
Dias depois do meu decreto irrevogável que as impedia de esperar, encontrei em cima do capot do meu carro um pão seco, empedernido, sujo e com uma mecha de cabelos nauseabundos espetados naquela pedra de centeio. Ao tentar com uma folha de papel levar o nojo ao lixo – ai, menina que é bruxedo! -, vi, escondidas, a mulher de camisola berrante com borbotos com a criança agarrada à saia travada compostinha nos joelhos.
Era a criança que sorria só com a boca.