A Gaffe en passant - faz imenso disto - ouviu uma expressão que a encantou sobremaneira:
Pessoas que não sabem estar na vida
A Gaffe entende a existência de gentinha que não sabe estar numa recepção, que assarapanta os talheres e mistura copos, que confunde a obra de Giacometti com arte africana, que bebe a água com limão do final da mariscada, que escreve destastas-o e gosta de Cagaleiro, que inventa cabalas para cheirar a peixe ou até mesmo que ignora por completo que cuspir na cara de alguém não é o mesmo que se ser frontal - muito menos quando se cospe nas costas do dito. São pequeninas vírgulas mal colocadas no texto que a vida vai ditando. Tornam a leitura intragável, mas pelo menos acabamos a perceber quem foi o autor.
O que não entende é que haja gente que sabe estar na vida.
A Gaffe sempre achou que toda a gente faz o que pode para
não morrer e que esse é a única sabedoria que se exige, tendo em conta que a
árvore do saber restante não é de todo a mesma da felicidade.
Saber estar na vida não é conhecimento que nos seja facultado, mas acaba por se tornar instinto à flor da pele que não permite mais do que sobreviver.
O episódio que originou tão profunda reflexão é contado num pé só.
Depois de bater na esquina da secretária e ter espetado a canela – uma peça anatómica que serve para que encontremos os móveis no escuro - na perna da cadeira, a Gaffe procura aprumar-se e suster o grito de dor que se quer soltar desenfreado. Devagar, de olhos semicerrados, salta do gabinete para o corredor.
Saber estar na vida é afinal desconhecer ou então fazer de
conta não saber de nada.