22.11.21

A Gaffe trollitada

Em homenagem a todos os trolls deste e dos outros mundos.

A Gaffe viciada
09/10/2013

A Gaffe confessa o seu maior vício!

Reclina-se no sofá nas noites que lhe agradam e mordisca quadradinhos de chocolate misturando-os com  vinho de preferência maduro, de preferência nocturno.

É uma mistura messiânica capaz, na melhor das hipóteses, de a fazer ver D. Sebastião no nevoeiro que se vai adensando sempre que o copo se levanta - o que é sempre de bom tom tendo em conta as famílias envolvidas - e, na pior das hipóteses, a tornar semelhante ao troll dos erros ortográficos, de sintaxe e de cinta deformadas, Átila, a galinha, que se agarrou a estas avenidas espalhando as vírgulas, como quem atira confettis, para as ver tombar à toa no chão das frases que escrevinha já sem nexo, estéreis e a soar como trapos encharcados batidos pelo vento.

Mas vale a pena! A Gaffe reconhece que no copo do Quinto Império pode sempre flutuar um quadradinho azedo.


A Gaffe distinguida
21/05/2015


A Gaffe tem de pedir desculpa à autora do artigo que vai referir. Não recorda o nome, nem onde o leu, mas na altura achou que estava muito bem escrito e continha um humor muito agradável e cativante.

O artigo falava naquilo a que se chama troll, definindo-o e caracterizando-o.

O troll seria um indivíduo que se cola literalmente a um determinado blog - ou blogs ou blogues- e preenche compulsivamente a caixa de comentários sem qualquer critério, muitas vezes de forma insultuosa e gratuita. Nada o impede de comentar o que quer que seja. Escreve muitas vezes sem nexo e amiúde sem ligação àquilo que lê. Escreve de forma a conseguir uma eventual resposta ou um número aumentado de visitas ao seu próprio covil. Normalmente o blog que o troll mantém é de uma nulidade absoluta e chega a raiar a debilidade mental.


Segundo a autora não há forma de nos livramos dele. É o nosso troll. Temos um pequenino sinal que nos apareceu na coxa, que nos dá um certo charme e um ar bastante sexy quando o mostramos logo a seguir ao ligueiro YSL, e temos um troll que nos surgiu do nada para nos maçar o blog.

Há no entanto uma outra espécie de estranha forma de ser.

A criatura anã que cospe nos outros com o ar seráfico dos mártires, mas sem sair do abrigo das paredes nuas de um buraco insalubre.

Facilitando a compreensão do conceito, podemos referir a existência de um troll externo capaz de inculcar toxinas na pele alheia projectando-as do seu covil a distâncias impensáveis para o tamanho que possui.

Uma das diferenças entre o troll habitual e esta nova modalidade consiste no facto desta última ser capaz de desenvolver uma fixação obsessiva, compulsiva e a raiar a degenerescência cerebral pelos alvos que escolheu, transformando toda a sua existência numa lura pantanosa onde os berlindes quebrados do ruído dos riscos que rasga se vão empapando de ilegibilidade.   

Não há nada a fazer. São coisas que acontecem.

A Gaffe omnipresente
25/10/2016


Há já um tempo significativa que a Gaffe não é assombrada pelo troll que tem apenso. Salvaguardando os alfinetes de pouca monta lançados do blog onde desova, o troll tem vindo a fazer-se notar pela ausência de baba e de matéria putrefata despejada na caixa de comentários, mais ou menos anónimos, que uma rapariga esperta identifica de imediato pelo balbuciar dos mesmos e constantes erros.

Há no entanto uma espécie distinta de troll que causa alguma perplexidade.

Não é de todo um anónimo rancoroso a cuspir fel. Pelo contrário. É detentor de uma gentileza iluminada e assina todas as caixas de comentários de todos os blogs que existem e provavelmente deixa em rascunho alguns farrapinhos para aqueles que darão à costa.

A Gaffe fica pasmada quando, saltitando de blog em blog, abrindo os comentários como quem colhe florinhas, apanha de imediato com esta coisa a desejar tudo de bom e a declarar a sua admiração incondicional mesmo no post mais ranhoso, provavelmente um produto de uma noite mal dormida.

Não falha. É omnipresente.

A Gaffe confessa que raramente viaja pela blogosfera. É uma rapariga comedida e prefere cuidar do seu jardim a calcar a relva alheia, mas quando o tempo permite e há uma aberta no piso ocupado destas Avenidas, vai dar uma voltinha por ruas estranhas. É nesses fugidas que apanha a enxurrada. O troll está ali. Em todos os lados, em todos os cantos, em todas as esquinas. Assustadoramente gentil, enervantemente motivador, medonho de insistência.

O troll surge em todos as pontas. Aparece em tudo que é comentário. Quer ser o primeiro. É sempre o primeiro e lá vai rumando a outro blog logo depois de imprimir o seu contentamento muito simples no desprevenido que foi apanhado nos últimos que surgem ou naqueles que estão no brilho do destaque.

Este caso que merece análise cuidada que a Gaffe se permite não fazer, é inibidor de visitas. Ninguém atura tanta tentacular aparição. Fugimos de imediato com receio de perdermos a compostura e a pose, esbardalhando-nos contra a vontade de a trucidar ou desfazer em ácido.

Se é verdade que, como diz o povo - e o troll subscreve, - quem é vivo sempre aparece, há com certeza momentos em que preferíamos não embater com tamanha frequência contra um figurante de Walking Dead.


A Gaffe trollitada
09/12/2016

A Gaffe é inócua e absolutamente asséptica. Todas as suas frases não são dignas de figurar nos anais das histórias da carochinha. São apenas uma forma de uma rapariga esperta se divertir nos espaços que lhe são dados para repouso.

Não é de todo razoável vir alguém esbardalhar-se neste cantito inofensivo, desatando à estalada ou comentando e dimensionando o ego de quem jamais conhecerá.  Um ego não é mensurável e muito menos comparável. Não é o pirilau dos meninos.

Não é também amoroso o troll que decide tentar alfinetar esta pobre rapariguinha disparando coisinhas, uns nadinhas, uns pechisbeques pontiagudos, do buraquito onde se vai criando bolor, tentando atingir a vida privada, a profissão, as características, as idiossincrasias, as opções, o estatuto e as migalhas que se convence que é capaz de roubar. 

Um troll passível de se incluir numa destas duas vertentes é de difícil controlo, como é sobejamente sabido, mas costuma atacar os blogs de referência, utilizando-lhes a notoriedade e, por estes caminhos ínvios, clamando a atenção para a sua própria lura. A Gaffe estava portanto posta em sossego, não suspeitando que poderia ser beliscada e mordiscada por um deles, lá dos fundos da estrumeira. É evidente que ficou impressionada. Ter um troll destes já digno de notificação oficial e merecedor de referência e de destaque.  

O irónico é sentir que o que o troll pensa tocar é apenas uma imagem virtual, filtrada e coada através de esquiços ou rabiscos rápidos que vão sendo seleccionados ou descartados.

O que o troll atinge nunca são os dedos de quem tecla, esbardalha-se apenas contra uma figura de cartão.

A grande danação do monstrozito é que neste estrebuchar, acaba inexoravelmente por revelar a totalidade da sua nudez papuda e ensebada.

A Gaffe repreendida

05/02/2017

Quincy Currie por Tatchatrin Choeychom

A Gaffe recebeu um comentário indignadíssimo assinado por uma senhora que se sente, nessa qualidade, ofendida e lesada, apenas porque esta rapariga descuidada não cuida da postura que o feminino deve assumir perante o mundo e se atreve a exibir fotografias de homens quase nus que só contribuem para a humilhação, a frustração e a baixa autoestima da maioria das mulheres, reconhecidamente incapazes de encontrar e - numa alusão clara a Saint-Exupéry -, cativar exemplares como os que vão aparecendo nestas avenidas.

Seguidamente declara a Gaffe instigadora do sexo pelo sexo, quando, como mulher formada e culta, deveria saber que um homem nu em cada esquina é rua aberta para a decadência feminina - isto, claro, se a esquina não for a de um beco sem saída, ou a que faz ângulo com um clube gay, intui a Gaffe.

Termina a senhora chamando a atenção para a atitude de ofensa ao feminismo e à luta das mulheres pela igualdade liberta dos grilhões - tendo em conta a condenação do teor das fotos, provavelmente a senhora quereria grafar outro vocábulo – do machismo a que esta rapariga tem vindo a dar cobertura.

Numa linguagem sempre cuidada, mas sempre unida ao grande raspanete, a senhora revoltada refere a lavagem do masculino que é apanágio do que por aqui desanda e acusa esta pobre rapariga indefesa de estar a sabotar a seriedade, o decoro, a nobreza e a integridade moral que nos deve inspirar e merecer o corpo humano, seja ele de que formato for.

Uma chapada.

A Gaffe chorou imenso arrependida de ter publicado fotografias de homens bons de se cair para o lado que eles quiserem, em vez das do marido da queixosa.

A Gaffe concorda. Nem tudo são rosas nestas avenidas. Às vezes passam pilas. Cobertas e acauteladas, mas sim, há pilas que se adivinham e de que sabemos que gostamos porque estão apensas a homens lindíssimos que mesmo fora das fotografias o continuam a ser.  

Evidentemente que a Gaffe não mantém a postura que uma mulher deve assumir. Esta rapariga, como diz Marco Paulo, é uma lady na mesa, mas só sabe Belzebu do que é capaz de fazer com o restante mobiliário e assume que pertence à maldita minoria de mulheres que não respeitam o sentir das outras, porque é perfeitamente capaz de fisgar  um matulão igual aos que se publicam, sem ponta de solidariedade para com as que ficam sem ele, embora pense que não é assim tão difícil tendo em consideração que não há homens irresistíveis, mas apenas mulheres que não sabem resistir.  

A Gaffe não tem uma postura – tem várias, porque já leu o KamaSutra -, e acredita que a autoestima de uma mulher não é influenciada - nem inflacionada -, pelo facto de ter conquistado um matulão divinal, porque suspeita que é exactamente uma bela e enraizada autoestima feminina que o atrai. Elevar os padrões da nossa autoestima através da aquisição e exposição de um potentado masculino, equivale a ler Gustavo Santos e consubstancia uma das mais medíocres atitudes machistas que uma mulher consegue encarnar.

Para além da ausência de uma postura, a Gaffe não tem compostura, porque suspeita que é muito desvalorizado o sexo pelo sexo ou, como já foi dito, o sexo mágico, aquele que se faz e se desaparece. Provavelmente a senhora indignada escreve cuesia erótica onde o dicionário de rimas ajuda a encontrar palavras que terminam em ar - e no ar - e textos cuéticos encimados pela fotografia - onde o amor está indubitavelmente presente - de um casal nu, engalfinhado de tal modo que é difícil perceber onde começa um e termina a outra; onde um simulacro de sexo, feito com muitíssimo amor, se deixa iluminar, fotografar, expor e visualizar apenas com o intuito de nos atingir o coração. O sexo pelo sexo é apenas um arredor do amor e muitas vezes são os arredores que interessam. A Gaffe não se importa que a considerem uma ninfa, mas não é maníaca e o crivo, ou o filtro, que usa para seleccionar os homens é tão apertado como a caixa craniana da senhora indisposta - o que, será bom de ver, o torna quase compacto e de dificílimo escoamento.

Há no entanto um ponto que gera na Gaffe a mais veemente discordância com a senhora agravada.  

A Gaffe não faz lavagem do masculino e embora não entenda com a profundura exigida o significado da acusação, quer deixar claro que aos homens que por aqui se publicam não lhes é exigido um banho prévio. A prova consta da foto que ilustra este longo rabisco. O rapagão da imagem, como se vê, não está convencido da eficácia do desodorizante que usa.  

A Gaffe resolve por fim, num claro sinal de reconhecimento, oferecer à senhora apoquentada uma pequena mostra de homens muitíssimo interessantes retirados de um quotidiano mais cultural que por certo agradará à comentadora. Aconselha a senhora a sentar-se, a cravar as unhas nos braços da cadeira, a amordaçar-se e a evitar uma exposição prolongada a esta pequena amostra que pode, pela repetição, provocar-lhe epilepsia.

São rapagões oriundos do universo do bailado. Muita postura, portanto. Devem ser olhados apenas como profissionais da companhia belga Thierry Smits e não tentar adivinhar-lhes as pilas - que a Gaffe já teve o prazer de ver, porque dançam muitas vezes todos nus.


A Gaffe vencedora
31/03/2017

Greta Garbo - The Mysterious Lady - 1928

Às vezes o nosso melhor argumento de defesa é precisamente a forma como somos atacados.