7.12.21

A Gaffe pittiana


A Gaffe decide usar o casaco da mana, dispensado porque a faz mais gorda, que tem um capuz forrado a vison. O casaco é perfeito para as noites frias do Porto e a pegada ecológica da Gaffe é ligeira tendo em conta que só pousa o tacão e tem o pé mimoso.

Sai saltitante ao encontro do rapagão que a olha com cara do famigerado já fosteassasssina! A Gaffe esqueceu por completo que o rapaz é adepto da natureza livre, pura e dura e que não seria fácil aparecer com bichos mortos na cabeça, mesmo se depois garantirmos que os netos dos falecidos já estão salvaguardados.

 

Estes exageros ecológicos cansam imenso.

A Gaffe não anda a cravar matracas nas cabeças das focas nem a esbardalhar javalis na Arrábida – tem muito medo das duas espécies -, mas confessa que considera uma imbecilidade recusar a oferta de um agasalho lindo de morrer apenas porque traz apenso um crime já punido. Fazer-nos parecer gordas é já pena severa. O passado, como diria o outro, é já passado, mas a Gaffe não se importa de carregar nos ombros os erros cometidos de modo a sublinhar a promessa de nunca mais os voltar a perpetrar.

O extremo ecológico, como todas as extremidades, faz-nos vestir mal. Enche-nos de colares de conchas e de paus, de sacos de batatas e de algodões indianos que engelham imenso, se colam ao rabo e fazem com que Dulce Pontes nos pareça Dior nos anos 50. Leva por vezes ao cultivo de plantas que irritam muitíssimo a polícia, mas deixemos que o fumo tolde este pormenor.

Depois, a Gaffe não viu ainda ninguém a proteger Brad Pitt das predadoras! Todas as raparigas sabem que este mocetão é um dos animais mais belos do planeta e que está em vias de extinção. Raríssimos são os da sua espécie. A Gaffe não se importa de oferecer os seus préstimos e a sua inteira disponibilidade para o defender da carnificina que mesmo em francês não é bonita.

 

Pelo dito entende-se de imediato que a Gaffe não aprecia o exagero e aquela espécie de tontura colectiva que faz de nos estrelas entre estrelas e que é a mesma que de repente nos torna peritos na obra de Herberto Helder, mesmo sem nunca lhe termos lido ou entendido uma palavra.