14.12.21

A Gaffe sem pijama


Não duvido que se encontre interesse em adormecer apenas com uma gota de Chanel nº 5, sobretudo nas noites abrasadoras de um Verão tropical, mas a Monroe, como rapariga espertíssima que era, sabia que este interesse é relativo e que não há nada mais maroto do que substituir o adocicado perfume por um pijama, um tudo ou nada bucólico, um tudo ou nada Lolita, repleto de botões ingénuos e de pequeninos pormenores malandros.

Não nos promete de imediato uma noite deslumbrante de excitação, mas as promessas, nestes casos, são para despir e a excitação raramente acaba com pijamas vestidos.

No entanto, rapazes, não se entusiasmem em demasia. As manhãs deste pijama - e de todos os outros -, nunca são como as retratadas na imagem.

Não nos espreguiçamos nunca com este glamour quase infantil, a não ser quando acordamos uma hora antes de vós, tomamos um duche divinal, escovamos os dentes, disfarçamos as olheiras e a palidez madrugadora com a parafernália de cremes que dispomos e usamos, com a discrição que se exige a uma rapariga que, para todos os efeitos, ainda está a dormir, o rímel, o bâton e as nuances pastel do sombreado subtil dos olhos. Podemos depois esperar que acordeis, remelosos e ranhosos, com um hálito demoníaco, desgrenhados e empastados. Em pose matinal, espreguiçamo-nos então recompostas e reconfortadas pela noite bem dormida.

Se manipularmos, meus queridos, o nosso acordar, nunca o fazemos para vós, rapazes. É sempre para coadjuvar a nossa natureza.



Do outro lado da cama, embora existam manhãs que podem ser constrangedoras e lapidarem uma reputação masculina, um homem que acorda nu pode ser um encanto - toda a rapariga esperta sabe, por exemplo, que não é atractivo amanhecer viçosa e pujante ao som do roçagar de umas ceroulas que nos deixam deprimidas e a pensar se não começamos mal o dia por se ter acabado mal a noite.

Um pijama largo, amplo, de algodão egípcio, com cordões lassos a prender as calças e uma pitada vintage a adornar o resto, é portanto um dos mais agradáveis amanheceres que uma rapariga pode esperar de uma noite mal dormida e é sem dúvida um fascínio encontrar um rapagão já amanhecido na cozinha a beberricar o nosso imaginário mais maroto, com umas calças de pijama azul-bebé riscado a branco e um tronco nu riscado pelo ginásio...

... ou então sem elas.

Como é evidente, a Gaffe não vai comentar o amanhecer dos pijamas usados por ladrões, trapaceiros e canalhas. Por norma, são doentios e sempre iguais aos dos falhados e aos daqueles que os captam em fotografia para os divulgar depois. Ignoram-se por desnecessária e absurda humilhação.