18.1.22

A Gaffe fraterna


A Gaffe tem uma relação muito complexa com a irmã e por vezes deixa de aguentar a pose de indiferença e passa à mais descabelada das ciumeiras.

O que mais a apoquenta não é o facto de ser notório que a mana é uma mulher repleta de glamour, mas há pormenores que lhe esbardalham os nervos.

É uma loira pura e linda, linda, linda com oiro raro no cabelo liso e muito Grace Kelly, bem vestida, inteligente - aquela pose de diva altaneira só se aguenta de pé a tempo inteiro com uma dose espessa de inteligência -, podre de rica e tudo ao mesmo tempo. Tem um ar de Rita Haywoorth misturada com Dietrich e usa um perfume que se mete no nariz das pessoas até lhes fazer mirrar o cérebro de inveja. Guia um Jaguar antigo e obra-prima que é do pai, mas que o pai empresta, não vá a menina ter de conduzir um Porsche, que é parolo.

A mulher senta-se e ao cruzar as pernas quase que nos dá com a biqueira do sapato, caro e de tacões agulha, nos queixos. É claro que mesmo alapada fica da nossa altura. Somos todos baixotes de pêlo cerdoso, daqueles de pata curta e de orelhinha murcha, em frente dos punhais traçados das suas maviosas pernas.

Vive num sítio onde é preciso vender as jóias da família para poder dar uma espreitadela e ficamo-nos pela cozinha, que na sala se só entra de brasão para cima. Usa bijouteria assinada e adereços gigantes que se estivessem pousados em cima de nós durante mais de uma hora tínhamos de ser levadas ao ortopedista, depois de desencarceradas.

É muita humilhação para uma rapariga só.

Estas mulheres, que felizmente são uma deslavada minoria, fazem uma rapariga do mais banal que há, de cabelo vermelho desgrenhado, de jeans entradotes e botitas tinhosas, sentir-se uma minorca gorda e sebosa.
Parece que nos esturricam!
Deviam ser todas expulsas. Deviam ser todas de papel. Devíamos todas poder pintar-lhes bigodes com marcadores grossos, desenhar-lhes cornos na testa e colorir-lhes um dente de preto.

Foi o que a Gaffe fez, mas cá para dentro, quando a mana insinuou que se esta rapariga pobre despir os jeans que usa invariavelmente por aqui a pele vai sair colada. A vedeta afastou-se depois, mas já com pêlos nas pernas, uma unha do pé encravada e com barba de dois dias e aposto que a partir de agora nenhum galã de morrer de lindo, saído das fitas de cinema, lhe vai apalpar tão cedo aquelas mamas perfeitas pintadas de verde vomitado.

E mais nada.