A minha irmã arrefece os cigarros. Vício e hábito que chega da adolescência em que a ameaça da mãe não vasculhava o frigorífico.
Fecha-os numa cigarreira de prata e coloca-a lá dentro.
As nossas relações foram sempre bastante parecidas com esses compridos e frios tubos de nicotina.
Ontem entrou na sala onde o meu pobre irmão sentado brincava com um livro. Retirou o isqueiro da carteira e fez surgir a chama várias vezes como quem brinca com um coração.
- Vens convidar-me para um jantar de gala? - arriscou o incauto.
- Andas pela vida fora com jeans coçados, t-shirts brancas deformadas e botas quase podres. Passas pela vida dessa forma como se a vida fosse um campo de férias e tu um turista acidental. Por favor, meu querido, na vida nunca venhas à vontade. Faz sempre cerimónia. Veste-te a rigor. Sempre. De contrário, todos os teus jantares serão de galo.
- Andas pela vida fora com jeans coçados, t-shirts brancas deformadas e botas quase podres. Passas pela vida dessa forma como se a vida fosse um campo de férias e tu um turista acidental. Por favor, meu querido, na vida nunca venhas à vontade. Faz sempre cerimónia. Veste-te a rigor. Sempre. De contrário, todos os teus jantares serão de galo.
Levantou-se e acendeu finalmente o cigarro frio.
Foi nesse instante que vi baloiçar o magnífico - e pesado de símbolos - ,colar de pérolas que herdou da minha avó e percebi então como aquela jóia pode ser apenas um adereço a mais no pescoço errado.