A Gaffe atribui grande importância à eleição da Miss Universo. É tão simples!
As candidatas são giras, não maçam muito, sabemos que querem em uníssono acabar com a guerra e com a fome no mundo, mas que a duração do mandato permite apenas acabar com a delas e ninguém apanha a surpresa de as ver fazer o contrário do que dizem. Nelas, o inverso do Nada é uma questão filosófica e toda a gente sabe que a filosofia é para aqueles que têm imenso tempo livre.
A Gaffe, nas campanhas para a Assembleia da República, não espera ver os candidatos em fato de banho e embora tenha tido o choque de ter de se esbarrar com uma espécie de derradeira nudez de Francisco Rodrigues dos Santos, considera o acidente um percalço isolado e prefere avaliar outras miudezas.
A verdade é que, nestas ocasiões, uma rapariga esperta fica sem cenários adequados. O amontoado de gentalha mal vestida, as feiras de gado, as ruas apinhadas de paus e de panos com padrões absolutamente pindéricos, a papelada que se desperdiça – a Quercus devia congratular-se. Mais uma campanha e ficamos sem a época dos incêndios! - e a barulheira descomunal dos tachos e dos apitos, impedem que qualquer pessoa de bem possa interpelar o candidato, pedir um autografo a Mariana Mortágua - que enfrenta banqueiros como uma Valquíria, mas que se torna liliputiana na frente do povo -, ou apalpar o rabiosque a João Galamba.
A Gaffe vai restringir-se, em consequência, aos candidatos mais proeminentes, deixando, por exemplo, o Tino a RIR longe da ribalta, apesar de ser mimoso vê-lo empolado e empolgado a tentar apertar toda a gente com sorrisos salivados ao mesmo tempo que procura perceber o que se está a passar ao lado, ou Ventura a berrar que os vai LIQUIDAR A TODOS. Não se atreve a tocar no PAN, porque tem medo de ser morta por ofensas aos bichinhos, nem no LIVRE, porque está fidelizada à MEO e não pode rescindir contracto.
Resta-lhe o habitual.
António Costa aparece como um tio bonacheirão. Toda a gente sabe que a eternidade é um tio desses que nos promete a fortuna se dele cuidarmos. Acabamos sempre por descobrir que vai estourando as moedas que tem, ou que terá, com as mulheres da má vida e ministros apressados. A Esperancinha, dizem, ronda cada esquina. Veste-se de verde. Vem um burro e come-a.
A Gaffe passou a ter medo de Rui Rio, depois de ter vivido num Porto por ele presidido.
Desvia os olhos quando o senhor fica irritado, com um bicho alemão espalmado no púlpito e um globo ocular gigantesco no horizonte pronto a cortar nas despesas, sobretudo aquelas que não dão retorno ou lucro. A Gaffe fica arrepiada quando o ouve a modelar o discurso aproximando o timbre das catequistas anzoneiras de província ou das beatas que dentro dos missais escondem estampas pornográficas. A Gaffe sente que Rui Rio é o sinistro gato - sempre o mesmo - que aparece nos colos dos mauzões. Ninguém sabe o que lhe acontece quando os vilões são apanhados.
André Ventura desaparece, eclipsa-se, evapora, não existe, porque Inês Pedrosa e outros que tais, apaniguados da omissão fonética aniquiladora e do realismo mágico, se recusam a pronunciar-lhe o nome. Está portanto arrumado o assunto.Ventura não há, se não o chamarmos.
Cotrim de Figueiredo parece ter qualquer coisita enfiada no rabo, mas não quer que o eleitorado se aperceba disso. Sorri, como quem abre um figo com os dedos. Dir-se-ia, caso quiséssemos ser cabras - e nunca o desejamos -, que foi de plástico numa anterior encarnação e que ambiciona voltar a sê-lo num futura. Entretanto, é de barro, moldado na peanha de um liberalismo carnívoro e esfaimado.
Jerónimo de Sousa é o último pedaço que resta das Ideologias. A Gaffe lembra-se de Álvaro Cunhal, sem as sobrancelhas de carpélio, quando vê surgir este velho e calcinado capitão. Surpreende-se quando percebe que o respeita, porque sempre considerou uma tolice a insistência tenaz com que alguém se esbardalha. Simpatiza com Jerónimo de Sousa, porque reconhece instintivamente que mesmo nas derrotas, podemos sempre recusar a venda burguesa por grifar e mostrar o rabo proletário ao vencedor.
Catarina Martins é pequenina. A porcaria do ditado que a aproximará da sardinha, se não erguer a banca da oposição, é ameaça eleitoral. A peixeirada está macerada de contínua e o pescado de tão exposto cobre-se de moscas. Os eleitores esperam ansiosamente vê-la nua, vê-la depois de burka, depois de Índia Tupi, mais tarde de Louça e a usar as bananas de Carmen Miranda para a poder comparar com as rivais.
Inês Sousa Real é banal. Como toda a banalidade fica sem história, ou cola-se à cauda das histórias que passam.
Elencados os candidatos predominantes, resta reparar na pobre gente que neles foi votar.
A Gaffe já só tem palavras esgotadas - porque gastámos tudo menos o silêncio, porque metemos as mãos nas algibeiras e não encontramos nada -, e uma fotografia avulsa de um dos eleitores. Eugénio de Andrade terá portanto aqui de bastar, em esperas inúteis, já que os elegíveis são iguais as Misses.
Elencados os candidatos predominantes, resta reparar na pobre gente que neles foi votar.
A Gaffe já só tem palavras esgotadas - porque gastámos tudo menos o silêncio, porque metemos as mãos nas algibeiras e não encontramos nada -, e uma fotografia avulsa de um dos eleitores. Eugénio de Andrade terá portanto aqui de bastar, em esperas inúteis, já que os elegíveis são iguais as Misses.