Há beijos fáceis de periodizar. São como livros. Nos primeiros parágrafos encontramos a época que os produziu e percebemos quase no imediato o pulsar do tempo em que tiveram as suas primeiras edições.
Há beijos medievais, de torneio colorido, de cantiga de amigo ou de inventar de amor, de maldizer o escárnio. São beijos de armadura, lances de espada e escada de torre sem ameias. São quase amor cortês, quase que trazem presos na língua os lenços de donzelas coroadas e cascos de cavalos brasonados.
Há beijos renascença, descoberta. De cachos de uvas de ouro nos vestidos e janelas voltadas para Florença. Beijos cinzelados, erguidos numa praça em que a boca é catedral pagã onde o poder é humano e onde há poetas e pincéis ensandecidos a parir deslumbre. São beijos de murais e de reboco fresco. São beijos dos Infernos ou portas vaticanas.Há beijos que se arrastam nos salões da carne. Beijos partitura para cravo. Brocados e decotes rebuscados. Beijos que brincam nos jardins simétricos dos lábios e usam laços para prender as pombas. São beijos com sinais no rosto e cabeleiras. Beijos com leques e rendas no púlpito dos anjos.
Há beijos dolorosos. Desejam a ardência do ficar dentro de nós e ter ao mesmo tempo a plenitude dos universos longínquos que se perdem na boca dos beijados. Ardem no peito, amenos ou horrendos, paisagens desgrenhadas ou abismos onde se tomba de alma toda inteira, irremissível pecado e salvação. São beijos luminárias.
Há beijos só em carne viva. Beijos que esquadrinham sem pudor. Observam e revelam. São quase descritivos, quase a vida toda dissecada. São beijos bisturi.
Há beijos trepidantes, quase exaustos. Cruzam paisagens. Recortam-se no espaço atravessados por velas de navios e tabaco. Farrapos de outros lados exauridos. São beijos desunidos.
Há beijos opiáceos, Oriente e luxo. Volúpia e decadência e exotismo onde os sentidos se amarfanham como as rodilhas brancas de um piano ou os voos coloridos, doloridos, de dandy que se esgota em absinto e morte.
Há beijos que se querem.
Outros não.
E há depois o teu.
Há beijos só em carne viva. Beijos que esquadrinham sem pudor. Observam e revelam. São quase descritivos, quase a vida toda dissecada. São beijos bisturi.
Há beijos trepidantes, quase exaustos. Cruzam paisagens. Recortam-se no espaço atravessados por velas de navios e tabaco. Farrapos de outros lados exauridos. São beijos desunidos.
Há beijos opiáceos, Oriente e luxo. Volúpia e decadência e exotismo onde os sentidos se amarfanham como as rodilhas brancas de um piano ou os voos coloridos, doloridos, de dandy que se esgota em absinto e morte.
Há beijos que se querem.
Outros não.
E há depois o teu.