18.3.22

A Gaffe pilosa


Quando Yves Saint Laurent lançou Opium, um sedutor perfume de Inverno para homem cuja versão feminina é claramente suicida, usou um rapazinho nu estirado em veludo cereja, numa pose muito Monroe, e, pasme-se, totalmente depilado. Fez o entusiasmado furor que se desejava, tendo em conta que os machos da época se mediam pelo comprimento dos pêlos do peito.

Quando o mesmíssimo perfume volta ao mercado, anos largos depois, o criador usa exactamente o mesmo querido, espapaçado no mesmo veludo cereja, MAS com toda a sua fulgurante pilosidade intacta.

Não resultou. O mal estava instalado, qual Dark Vader dos aromas depilados.

Os homens, muito para além dos nadadores e dos ciclistas, tinham passado a destruir aquilo que causa o mais inofensivo dos atritos. Uma guerra total à pilosidade masculina que fez a loucura das esteticistas que se viram de súbito com as mãos de unhacas postiças cravadas nas coxas e nos peitorais dos musculados jovens metrossexuais, depostos mais tarde pelos urbersexuais - iguais aos antecessores, só que ainda mais tontos.

A obsessão pela ausência de pêlo no corpo masculino generalizou-se. Os rapazinhos esqueceram que por muito que esta falta de suave atrito seja sintoma de modernidade, de cosmopolitismo, há em todas as mulheres, mesmo naquelas Barbies tansas que desatam aos guinchos quando vislumbram por entre o nevoeiro um Ken Malibu, o desejo sublimado de sentir no corpo banhado e oleado por cremes e loções - Nivea ou Shiseido, neste caso tanto faz -, a máscula fricção das pernas de um homem ou aprazível roçagar ligeiramente áspero de peitorais brandamente cobertos de pelagem.

O preocupante e o que me deixa perplexa é a informação da minha excelsa esteticista que me segreda que há muito que foi declarada guerra até aos… inocentes!
É o triunfo do império de plástico, a apoteose do plastificado, a coroação do Ken.

Não se iludam, rapazes, a depilação total dos vossos corpos só nos aproxima da Grécia Antiga apenas se o vosso mármore for o de Carrara.