Desisto de imediato e viro a página.
Há no entanto uma pequena beliscadura que me deixa a sangrar de irritação nestas paisagens.
Como quem arranca um dente sem anestesia, há gente que estrafega uma frase alheia, isolando-a, torcendo-a e distorcendo-a de modo a que sirva os seus intentos. Normalmente bondosos. Se por estas bandas largas nos é fácil amortecer a dor, ou mesmo evitá-la, usando um clique milagroso, na vida, na
real, não nos é permitido tal façanha. Somos de boas famílias e nadas em berço de oiro, portanto noblesse oblige.
É particularmente penoso ter de arriscar a minha saúde em nome da polidez e da civilidade com que é ouvido um amontoado de lugares comuns, de tolices hipócritas, de lantejoulas literárias coladas com saliva a pretensas boas intenções.
Nunca tive coragem para pulverizar conversetas deste teor e passo horrores a tentar entrar em piloto automático.
Esta deficiência arrasta consigo outras anomalias. A inveja, por exemplo.
Tenho imensa inveja da capacidade detida pela minha irmã de fazer explodir no meio de uma colecção de violinos, uma daquelas bombas que só deixam vivas as ervinhas - e os sapatos dos interlocutores para memória futura.
Morro de inveja quando no encadear de um discurso pio, doce, amoroso, terno, de bandeira branca desfraldada e empunhada pela senhora pia, doce, amorosa e terna, se ouve, fechando-o com chave doirada, a desgraçada e arrancada a ferros:
- O melhor do mundo são as crianças.
Com uma seriedade assustadora, com um sinistro brilhozinho nos olhos, com uma quietude muito pouco cristã e com lâminas nos dentes, a minha irmã fustiga:
real, não nos é permitido tal façanha. Somos de boas famílias e nadas em berço de oiro, portanto noblesse oblige.
É particularmente penoso ter de arriscar a minha saúde em nome da polidez e da civilidade com que é ouvido um amontoado de lugares comuns, de tolices hipócritas, de lantejoulas literárias coladas com saliva a pretensas boas intenções.
Nunca tive coragem para pulverizar conversetas deste teor e passo horrores a tentar entrar em piloto automático.
Esta deficiência arrasta consigo outras anomalias. A inveja, por exemplo.
Tenho imensa inveja da capacidade detida pela minha irmã de fazer explodir no meio de uma colecção de violinos, uma daquelas bombas que só deixam vivas as ervinhas - e os sapatos dos interlocutores para memória futura.
Morro de inveja quando no encadear de um discurso pio, doce, amoroso, terno, de bandeira branca desfraldada e empunhada pela senhora pia, doce, amorosa e terna, se ouve, fechando-o com chave doirada, a desgraçada e arrancada a ferros:
- O melhor do mundo são as crianças.
Com uma seriedade assustadora, com um sinistro brilhozinho nos olhos, com uma quietude muito pouco cristã e com lâminas nos dentes, a minha irmã fustiga:
- E o melhor das crianças são aqueles pespontos perfeitos nas carteiras Hermès.
Pode não ser bonito ouvir, mas aniquila instantaneamente o cor-de-rosa bebé.