27.7.22

A Gaffe sitiada

Armindo Lopes
Este rio é um homem nu em desleixo premeditado, pousado na terra como se estendido numa cama de opalas.

Este é o rio que me prende, que me deixa de olhos atados e que me sussurra as razões das minhas algemas-socalcos.

Este é o rio do adeus vagaroso, porque lentas devem ser aqui as partidas para que a memória retenha e resguarde todos os momentos em que o granito, a água e o ferro nos entram na alma que percorre as vielas do sonho, mesmo as que sabemos não passar de cinza.

Há lugares onde ficamos presos para sempre. Como se quiséssemos ou como se fosse esse o nosso fado. Como importasse muito ter um chão, um céu ou uma árvore.

Há lugares onde acordamos sempre por mais longe que seja a nossa terra agora.

Há lugares imutáveis dentro dos nossos olhos, cegos nos caminhos que não temos.

Há lugares onde a água corre e onde morrem árvores e nascem depois árvores que vão depois morrer por onde passa a água.

São os lugares que nos estancaram o peito no instante em que soubemos que o nosso chão, as nuvens e as árvores que morrem por onde a água escorre, são apenas os braços dos abraços que perdemos.

Vamos por dentro.