Telhados de Paris - Kenny Harris, 2022 |
É curioso como o reencontro com os nossos mais queridos amigos depois de uma ausência repleta de saudades e troca de memórias por cabo e por wireless, nos pode fazer descobrir que a distância que nos separou no espaço se pode transformar numa distância interior, calcetada sem o termos percebido, mas agora demasiado evidente para podermos encetar a conversa que ficou incompleta no tempo de partir.
O meu revisitado círculo de amizades, outrora renhidamente fechado e avesso a intromissões, contrário a qualquer tipo de parolo deslumbre que incute a ânsia do aparecer, porque quem não é visto não existe, revolucionariamente livre, rebelde e incorruptível, a fazer sonhar com a Resistência à ocupação Nazi, enforma e dá corpo agora ao Tout Paris.
Domado e assimilado por completo, reproduz com exactidão comportamentos chave do sucesso, lugares-comuns que a vida empresta aos tontos seduzidos pelo deslumbre dos camarins do brilho de brilhantes, bolas de sabonete da Ach Brito, desfiles e vernissages de pavões.
No centro do glamour não sou o corpo estranho. O meu exílio foi propositado; o meu afastamento, racional; no meu desterro havia um objectivo e a coragem coroa-se de louros e é tida como heróica pelos que não percebem que, na esmagadora maioria das vezes, os heróis não são mais do que o cagaço com armas na mão.