A minha irmã bebe champagne numa das esplanadas de Paris.
A imagem é quase cinematográfica e a mulher consciente do facto apura os detalhes e cuida dos pormenores.
As calças afuniladas, pretas e vincadas, aumentam-lhe as pernas que vai descruzando num exercício de esgrima e a camisa branca de homem, de colarinhos rígidos, é manchada pelo cabelo quase em fúria.
Tem as mãos grandes, dedos finos e unhas ovaladas e perfeitas. Move-as com vagar de modo a que a pulseira de pérolas acompanhe a dança dolente dos gestos compassados. Tem os olhos dourados com pestanas grossas, lânguidos, pausados. Não há relances neste olhar. Olha devagar e o langor do olhar é já matreiro. Espreita, espia, espera como o leopardo.
Reuniu o grupo de Paris, ou que dele resta, e permitiu a entrada no círculo quebrado dos iniciados de alguns noviços que mede sem dó nem piedade.
Olho-os e não sei se o tempo é tempo de esplanadas de mulheres e de vadios destes. Não sei se Paris suporta ainda este ruivo bando de palavras, solto no ar, inútil, desenhado no sol entardecido da cidade.
Nas esplanadas de Paris as flores trazem Champagne e há néon nas almas, brilhantina e riso e o allure de uma mulher que passa sem perceber que passa sobre vidro.
Paris das esplanadas depois de finda a festa. Nas ruas que são rios e savanas, pradarias, tundras, gelo, vulcânicas passagens para outros lados, cheira a luz e a carne de perfumes raros. Manadas de indefesos animais, restos da humana desventura de viver em grupo em que o deslumbre mata, porque cega.
Rapazes que ficaram pelo caminho nas tardes em que Paris quis usar outros. Manada que atravessa este meu rio na lentidão que desconhece o tigre.
Incautos e imaturos príncipes grifados.
Grandiosa idiotice. Esplendorosa idiotice. Magnífica idiotice que nos traz à boca, sem um mover de um músculo, sem emboscar a vida, a presa que quisermos.
O menino de olhos de gazela e boca a prometer um fruto. Tem um pequeno alfinete preso na braguilha. Brilha a braguilha com o alfinete preso na prega do tecido que lhe molda o sexo. Cintilam os olhos do menino de braguilha alfinetada e borboleteia até pousar na mesa à minha frente.
Purpurina na íris, asa de pólen, menino tonto preso pelos meus olhos.
Olho-os e não sei se o tempo é tempo de esplanadas de mulheres e de vadios destes. Não sei se Paris suporta ainda este ruivo bando de palavras, solto no ar, inútil, desenhado no sol entardecido da cidade.
Nas esplanadas de Paris as flores trazem Champagne e há néon nas almas, brilhantina e riso e o allure de uma mulher que passa sem perceber que passa sobre vidro.
Paris das esplanadas depois de finda a festa. Nas ruas que são rios e savanas, pradarias, tundras, gelo, vulcânicas passagens para outros lados, cheira a luz e a carne de perfumes raros. Manadas de indefesos animais, restos da humana desventura de viver em grupo em que o deslumbre mata, porque cega.
Rapazes que ficaram pelo caminho nas tardes em que Paris quis usar outros. Manada que atravessa este meu rio na lentidão que desconhece o tigre.
Incautos e imaturos príncipes grifados.
Grandiosa idiotice. Esplendorosa idiotice. Magnífica idiotice que nos traz à boca, sem um mover de um músculo, sem emboscar a vida, a presa que quisermos.
O menino de olhos de gazela e boca a prometer um fruto. Tem um pequeno alfinete preso na braguilha. Brilha a braguilha com o alfinete preso na prega do tecido que lhe molda o sexo. Cintilam os olhos do menino de braguilha alfinetada e borboleteia até pousar na mesa à minha frente.
Purpurina na íris, asa de pólen, menino tonto preso pelos meus olhos.
Pode ser este. Podia ser aquele ali, aqui, além. Mais este e aquele, o outro e toda a gente.
Que seja a minha noite uma alvorada, que eles sabem perder-se e eu encontrar.
Que seja a minha noite uma alvorada, que eles sabem perder-se e eu encontrar.
Dentro de mim existe outra esplanada. Deserta, sombria, sem pérolas, sem luzes, sem tectos, sem Dior e mesmo sem Laurent, o rapaz de alfinete na barguilha.
Dentro de mim Paris não tem palavras.