12.9.22

A Gaffe solidária

Em Paris é difícil uma rapariga ser atendida condignamente nas lojas em que é preciso ter estampado na testa o cartão de crédito gold. Somos normalmente tratadas com o desplante, o desprezo e a repugnância que a monarquia, anquilosada ou não, dedica a gente sem berço.
Existe sempre, a Gaffe reconhece, a possibilidade de se entrar num provador e desatar aos gritos a perguntar onde está o papel higiénico, mas corre-se o risco de à saída nos apresentarem a conta do que não usamos ou de nos passarem a espreitar através de um postigo, avaliando-nos, como na Joalharia Cartier, perto do Ritz.

A Gaffe decidiu partilhar um segredo.

Seremos tratadas como diamantes se coleccionarmos sacos grifados! Os com mais sucesso são os da Chanel, mas os Cartier ou Balenciaga resultam com eficácia similar.
Escolhemos dois ou três e enfiamos dentro uma ou duas camisolinhas da Zara ou um ou dois jornais amarrotados e com um ar de quem comeu caviar estragado, entramos com eles no braço sempre de modo a que as asas fiquem presas entre a junção do braço com o antebraço e a nossa pequenina e sofisticada mão se mantenha erguida e de dedos esticados, mas tombados. Podemos aparecer esbardalhadas, porque vão pensar que somos apenas modernas e descontraídas.
Convém mexericarmos com um nojo cuidadoso nas peças expostas como se todas tivessem sido contaminadas pelo ébola - ou por Covid, caso a Casa não for especialmente requintada - e jamais solicitar a ajuda das meninas que nesta altura já devem estar prontas para se dissolverem em amabilidade.

Resulta na esmagadora maioria das vezes. Nas que falham é porque precisamos mesmo do papel higiénico.