Waldemar von Kozak |
A perspectiva misógina, machista e beata é sempre suportada pelo estereótipo e contém inevitáveis preconceitos.
Sendo a mais básica e sintética formulação do pensamento - e em consequência falso e enganador -, o estereótipo é também a mais fácil forma de comunicação de massas. Propaga-se com facilidade, endurece facilmente e permanece como um gato morto tombado na mesa do jantar. Ninguém o remove porque toda a gente espera pela chegada do messiânico mordomo que servia D. Sebastião.
A ligação que é feita entre o comprimento da saia de uma mulher, o tamanho do seu soutien, a largura das suas ancas, ou a flacidez dos seus braços, e a sua personalidade é das mais enraizadas tolices de que há memória - uma memória de passado longo e com um futuro promissor -, mas é também e ainda o mais rápido modo de formular um julgamento acerca do mistério feminino.
Apanham-se as migalhas quando o banquete cobiçado é interdito.
Alexandre Pais é um miminho exemplificador deste facto.
Para uma mulher inteligente as idiotices do jornalista são divertidas e aumenta-lhe as hipóteses de brincar com toda a espécie de tolos convencidos. Permite-lhe ser, em cada saia, em cada tamanho e em cada flacidez, a mulher que um palerma qualquer deseja no escurinho dos seus estereótipos.
Alexandre Pais cuspiu, em pleno artigo de opinião, em direcção a várias mulheres. É provável que minutos mais tarde, e várias toalhas encharcadas nas trombas, proclame que não quis ser sexista ou misógino e que não tem medo de ninguém.
A Gaffe não considera que o honrado cavalheiro tenha sido coisa tamanha.
Não foi.
Alexandre Pais é apenas grosseiro e mal-educado, aliando estes mimos ao facto provável de não cuidar da pele e da higiene dentária, tal é a mancha seborreica do que escreve, tal é a hálitose daquilo que se lê.
Os honrados cavalheiros que a Gaffe conhece - e conhece vários -, não são sexistas, misóginos ou machistas. São educadíssimos, cultos e letrados, lavam os dentes, cuidam da barba e da pele, são donos de um capital simbólico e de um carisma incontornáveis, consequência também do facto de não possuírem rasto de Alexandre Reis a toldar-lhes o discernimento e de serem genuinamente elegantes.
A Gaffe considera, no entanto, que a tríade - sexismo, o machismo e a misoginia -, reúne conceitos hipervalorizados.
Se se lembrar que estas três misérias são atributos de pobres homens, uma rapariga esperta reconhece que as manifestações do grotesco masculino, sempre limitado por imagens estereotipadas de mulher, podem e devem ser rentabilizas e reorganizadas a seu favor.
Apoiemo-nos num exemplo simplicíssimo. Um clássico:
É uma delícia termos a possibilidade de observar um matulão, um macho, um bigodaço, convencidíssimo que somos incapazes de mudar um pneu, a suar apoplético, tentando desapertar aquelas coisas que prendem a roda ao motor. Quanto mais parvas e deslumbradas parecemos, mais o homem se esforça. Quanto mais imbecis e frágeis nos mostramos, mais o rapagão se estimula. Quanto mais estereotipadamente femininas conseguimos ser, mais o papalvo nos trata como princesas inúteis de conto de fadas, dotadas apenas para o esvoaçar etéreo do não fazer nada.
É evidente que desconhece que uma rapariga esperta não muda um pneu. Troca de carro.
Cristina Ferreira e Maria Botelho Moniz são - não duvidemos, pese embora a agonia que nos causam -, raparigas espertíssimas. O facto de uma ter sido apanhada a apresentar reality shows manhosos e a outra ser apanhada a contracenar com Cláudio Ramos, não comprova o dito, mas estes acidentes ocorrem quando as moçoilas tentam, infelizes, imitar os seus congéneres todos machos e muito propensos a bailar com o povo quando querem muito ser depois maestros.
Esperemos que as mulheres visadas perante a deselegância, a grosseria e a má educação do senhor, resolvam apenas sorrir, assistindo em nome de todas nós às parolices do adversário.
As imbecilidades revelam imenso os pacóvios.