Ellen T. Fisher, 1887. |
Era no tempo das amoras.
Havia um muro baixo no jardim onde nos sentávamos a morder os frutos e a pensar na vida, como se houvesse vida para pensar.
Nos papéis ainda brancos das nossas três almas bem unidas, havia já o picotado por onde se deveriam recortar e separar mais tarde.
Mas era ainda o tempo das amoras e havia o muro de pedra, pequeno, onde nos sentávamos, os três, e no papel por macular das adolescências, deixávamos cair pingos de amoras.
Ficávamos ali a murmurar os sonhos e quando havia sol, amolecíamos. Olhávamos os plátanos ao longe e cada um de nós perdia-se por dentro, absortos, mordendo a tarde e alongando na boca o gosto dos frutos.
Ficava entre a minha irmã e o meu irmão que iniciavam ali pueris rivalidades. Olhávamos os plátanos e perdíamos o tempo assim, olhando os tempos em que nada havia para dizer e só dentro de nós passava a tarde.
Era no tempo das amoras, naquele muro baixo que suportava os devaneios destes três tontos, que se enfadavam sempre. O tédio era o silêncio que se ouvia.
Sentada, baloiçava os pés devagarinho, como se a pedra fosse o meu embalo, preso no céu por cordas invisíveis. Baloiçava os pés, devagarinho, até que o oscilar ganhasse força e erguesse as minhas duas pernas já bem alto.
No tempo das amoras baloiçava e foi no baloiço desse muro baixo que eu tombei para trás, desamparada.
Ninguém mexeu na tarde. Ninguém fez nada. Dois adolescentes sentados sobre um muro a ruminar o dia que acabava e duas pernas erguidas lá no meio. Imóveis, chocadas por não ter feito efeito a sua queda curta, mas muito digna e mais do que evidente.
Fiquei ali, costas no chão e duas dignas e verticais colunas a apontar para o céu, azul profundo, até que a minha irmã, devagarinho, foi informando o rapaz que esta pobre ruiva havia alterado a posição usual.
Ninguém desceu os olhos.
Levantei-me, mas tinha a alma pasmada, estonteada.
Era o tempo das amoras e tinha descoberto, olhando o céu do chão, o lugar exacto onde se prendem os fios do baloiço que suporta agora o oscilar das minhas inteiras e mais profundamente azuis desilusões.
Era no tempo das amoras, naquele muro baixo que suportava os devaneios destes três tontos, que se enfadavam sempre. O tédio era o silêncio que se ouvia.
Sentada, baloiçava os pés devagarinho, como se a pedra fosse o meu embalo, preso no céu por cordas invisíveis. Baloiçava os pés, devagarinho, até que o oscilar ganhasse força e erguesse as minhas duas pernas já bem alto.
No tempo das amoras baloiçava e foi no baloiço desse muro baixo que eu tombei para trás, desamparada.
Ninguém mexeu na tarde. Ninguém fez nada. Dois adolescentes sentados sobre um muro a ruminar o dia que acabava e duas pernas erguidas lá no meio. Imóveis, chocadas por não ter feito efeito a sua queda curta, mas muito digna e mais do que evidente.
Fiquei ali, costas no chão e duas dignas e verticais colunas a apontar para o céu, azul profundo, até que a minha irmã, devagarinho, foi informando o rapaz que esta pobre ruiva havia alterado a posição usual.
Ninguém desceu os olhos.
Levantei-me, mas tinha a alma pasmada, estonteada.
Era o tempo das amoras e tinha descoberto, olhando o céu do chão, o lugar exacto onde se prendem os fios do baloiço que suporta agora o oscilar das minhas inteiras e mais profundamente azuis desilusões.