Tem trinta e mais alguns anos e, às vezes, sente-se amarga como um daqueles trapos que se depositam nos lares para serem pendurados no esquecimento mais ou menos descansado.
Há uma espécie de velhice fora do tempo, como um Verão de S. Martinho ou como um dia de tempestade no que se espera ser o Verão de S. Martinho.
A Gaffe acredita que à sua volta sempre teve velhos. Mesmo quando era mais nova, os novos, os da sua idade, também pareciam velhos. A velhice deles, uma espécie de velhice sacana e matreira, estava, não no modo como o reumatismo os curvava ou nas dores dos rins e nas alterações da próstata, mas na capacidade que tinham - mantida sempre jovem - de captar com atenção e de conservar com humildade o que acreditavam ser o conhecimento.
O conhecimento - ou se quisermos a sabedoria -, já se sabe, faz frequentemente apodrecer a vontade de sorrir e extingue-nos a sensação de felicidade que mantemos pertinho do coração para enganar as tripas, mesmo sabendo que pode ser feita de pão que o diabo amassou ou de lata pouco nobre, como os cântaros inúteis das memórias que vão enferrujando. A felicidade, ou a ilusão dela, funciona como um creme rejuvenescedor, com a vantagem de o podermos fabricar sozinhos. Às vezes é também botox, mas a Gaffe deixa as máscaras para outra altura.
Sendo o espaço do conhecimento possivelmente incompatível com a arquitectura da felicidade e sendo a felicidade um factor essencial para manter a juventude em forma, resulta que os sábios são todos criaturas infelizes com o coração encarquilhado.
Não sendo sábia, a Gaffe é portanto uma rapariga feliz. Não devia sentir-se velha, às vezes. Não devia sequer achincalhar a felicidade como coisa que se inventa para se enganar as tripas.
Sempre lhe disseram que a velhice é uma construção mental, que a idade que conta é a do espírito.
Mas o que é isto do espírito? Que construção mental faz a velhice?
A Gaffe às vezes sente-se velha, sem construções mentais ou espíritos que contam.
Apetece-lhe ser feliz.
Pensa em ser feliz frequentemente, mas não sabe se há velhice para isso.
A Gaffe acredita que à sua volta sempre teve velhos. Mesmo quando era mais nova, os novos, os da sua idade, também pareciam velhos. A velhice deles, uma espécie de velhice sacana e matreira, estava, não no modo como o reumatismo os curvava ou nas dores dos rins e nas alterações da próstata, mas na capacidade que tinham - mantida sempre jovem - de captar com atenção e de conservar com humildade o que acreditavam ser o conhecimento.
O conhecimento - ou se quisermos a sabedoria -, já se sabe, faz frequentemente apodrecer a vontade de sorrir e extingue-nos a sensação de felicidade que mantemos pertinho do coração para enganar as tripas, mesmo sabendo que pode ser feita de pão que o diabo amassou ou de lata pouco nobre, como os cântaros inúteis das memórias que vão enferrujando. A felicidade, ou a ilusão dela, funciona como um creme rejuvenescedor, com a vantagem de o podermos fabricar sozinhos. Às vezes é também botox, mas a Gaffe deixa as máscaras para outra altura.
Sendo o espaço do conhecimento possivelmente incompatível com a arquitectura da felicidade e sendo a felicidade um factor essencial para manter a juventude em forma, resulta que os sábios são todos criaturas infelizes com o coração encarquilhado.
Não sendo sábia, a Gaffe é portanto uma rapariga feliz. Não devia sentir-se velha, às vezes. Não devia sequer achincalhar a felicidade como coisa que se inventa para se enganar as tripas.
Sempre lhe disseram que a velhice é uma construção mental, que a idade que conta é a do espírito.
Mas o que é isto do espírito? Que construção mental faz a velhice?
A Gaffe às vezes sente-se velha, sem construções mentais ou espíritos que contam.
Apetece-lhe ser feliz.
Pensa em ser feliz frequentemente, mas não sabe se há velhice para isso.