25.5.23

A Gaffe de pernas e espadas

É de importância capital o que nós raparigas fazemos com as pernas.
Esquecemos frequentemente que são, por muito incompreensível que para nós seja, uma das armas que dispomos para reforçar vitórias.

São punhais, são serpentes e são rios por onde poetas e flaneurs fazem desfilar todas as palavras, traçando todas as rotas, deixando-se ferir por doces lâminas de carne e envenenar pelo néctar suave que desliza invisível rumo aos tornozelos.
As nossas pernas, minhas caras, são muito mais do que dois instrumentos que nos levam simples e directamente do ponto A para o ponto B. Neste percurso, cabem labirintos e o erro de os ignorar ou desbravar pode atingir-nos de forma fatal fazendo-nos perder dois magníficos trunfos.

No jogo, os homens conquistam usando artimanhas tontas, acreditando que o poder simbólico de uma gravata Gucci ou de um Armani perfeito, os torna eficazes. A guerra pelo poder no masculino é feita sobretudo com homens vestidos. A nudez masculina, quando usada na guerrilha, jamais acorrentará uma vitória ao tempo. Os homens lutam vestidos e nem sempre é segura a almejada conquista. As mulheres podem - devem - usar todos os recursos que um machismo idiota lhe entregou de mão beijada.

As pernas de Tina Turner - mesmo quando vagamente cobertas por redes de seda - eram, nos campos das batalhas que se tornam palcos, dois dos mais possantes e incompreensíveis mísseis de que há memória. Sempre detectados pelos radares, mas nunca recusados por amigo ou inimigo.

A voz era o som destas espadas. Magnífico.