As cabeças de Fernando Ruas e de Victor Constâncio, por exemplo, parecem ter sido dominadas por uma aranha negra, velha e outrora peluda ou, em alternativa, terem um rato morto a servir de cabeleira.
Admitamos que aquilo é deprimente.
Desenhar o penteado com um marcador preto produziria o mesmo efeito. A tinta tinge o couro cabeludo e, no caso do primeiro, apeçonhenta o bigode. Ficamos perante dois casos de toucas de banho incorporadas, negras, funestas e retintas e nitidamente falsificadas, como se os chineses tivessem plagiado a estrutura capilar e a pilosidade de um jovem latino e tivessem colocado o produto à venda nos mercados e nos átrios dos municípios.
É um erro crasso confiar num homem que pinta o cabelo daquela forma e acredita, patético, que consegue convencer os pares e os parceiros com o negro daquilo que outrora foi cabeça. É tão idiota como acreditar nos que arrastam de forma confrangedoramente dolorosa - uma dor de alma - os fios da nuca para a frente da testa, criando uma estranha e assustadora arquitectura pilosa que lembra um ovo de extraterrestre num filme qualquer de ficção científica de terceira categoria ou pornográfico, onde não há categoria nenhuma.
As meninas podem tingir-se com a cor cereja, porque há
sempre a possibilidade de nos distrairmos com os decotes e com os vestidos dois
números abaixo do que seria necessário para não ficarem comprimidas, mas
um homem não podem usar a porcaria que as raparigas publicitam sem correr
o risco de passar por idiota, desonesto, inseguro e incompetente.
Aiden Shaw |
Há incomparavelmente mais probabilidades do cabelo grisalho, ou mesmo totalmente branco, poder ser o mais deslumbrante e fascinante convite à aventura e ao embarque naquilo que é o transatlântico mais poderoso do universo: a maturidade consciente e assumida do homem por quem perdemos bússolas e astrolábios - não convém contudo generalizar, porque nos lembramos de repente do engenheiro Sócrates.
Aiden Shaw prova de forma inequívoca a tese defendida. Embora, diga-se, tenha um passado conturbado e controverso, muito dedicado a fitas pouco recomendáveis, é uma espantosa criatura susceptível de povoar os sonhos menos brancos de uma rapariga com a cabeleira cor de cenoura, ou de um rapaz mesmo careca e apesar deste portento não passar por nós ao virar da esquina, não é o único unicórnio a passar por aqui. As meninas façam o favor de atentar em:
Patrick Petitjean por Joe Lai
ou em Philippe DumasA Gaffe acha muito bonito dizer-se que cada ruga que nos surge é uma história contada.É evidente que este lugar-comum não se pode aplicar a gente que já nasce velha, a seres com idade para gostar de marcar presença nos festivais de Verão e cara de quem já passou por todos, nem a criaturas com uma pele de rabinho de bebé, mas que fazem de Manoel de Oliveira - no estado presente - uma criança de cueiros.
A velhice é como o dinheiro. Enriquecer e envelhecer exigem estratégias precoces que permitem atingir o estatuto fornecido por rugas e fortuna com o poder de quem tem histórias para contar, mas que prefere autorizar que sejam narradas ou fotografadas pelos outros.
O tempo, dizem, é uma criatura implacável. Pensar contrariá-lo envelhece-nos imenso para além de nos poder transformar em mutantes de silicone.
O único modo de contradizer o passar dos anos é sentir que temos demasiadas rugas para fazer determinada coisa e agarrar no bom senso e fazê-la.
É uma perfeita tolice declarar que a vida começa aos 30, aos 40 ou aos 50!
A vida começa quando decidimos e conseguimos ignorar a plateia.