17.8.23

A Gaffe questionável

Não é de esfacelar os nervos, mas é maçadora a pergunta que fazem quando apanham a Gaffe pela frente:

- Então estás aqui?

Há questões, mesmo as retóricas, que mais valia não serem colocadas e embora esta pergunta tenha o seu quê de pessoano, faz uma pessoa parecer idiota se a fizer com cara de espanto e com um sorriso de madona florentina a acompanhar.
O que havemos nós de responder, a não ser com um sim, a questões deste calibre? É que há milhionésimas delas!

- Cortaste o cabelo?
- Já vais andando?
- Estás sentada aí?

São perguntas que só os portugueses sabem fazer com a maior seriedade e que só os portugueses esperam realmente ver respondidas. Não há francês nenhum que as formule e mesmo quando atacado por um qualquer vírus que lhe domina o cérebro obrigando-o a formular idiotices, não fica a aguardar a resposta. Não há inglês que não desande logo que as faz, mesmo que o inquirido tenha a resposta na ponta da língua e vontade de a fornecer. Não há alemão que espere ouvir o que há para discorrer acerca do assunto. Nenhum italiano tem pachorra para se sentar a ouvir o que se pode dissertar sobre estas questões filosóficas.

Não há!

Os portugueses gostam de arranjar uns minutinhos para surpreender com estas perguntinhas todas primaveris e arranjam sempre um tempito para debater as respostas que esperam ansiosos.

A Gaffe fica sempre com a sensação de que não estão completas, que lhes falta qualquer coisa que acabou colada ao sorriso aparvalhado com que as fazem.

- Então estás aqui, sua idiota que pensa que é finória e vem calcar bosta à terra com cara de enjoada?
- Cortaste o cabelo, sua lingrinhas de treta que agora parece um frango com aquela coisa da gripe?

- Estás sentada aí, em vez de mexeres o rabo e tratares dos bichos?

Mas talvez seja apenas impressão da Gaffe e os portugueses gostem apenas de passar por parvos disfarçados de Pessoa.