11.9.23

A Gaffe com uma história pequenina

Corremos à procura das nossas histórias e esperamos que a maioria nos deslumbre como brilho das estrelas. Narramos os nossos mais pequenos acontecimentos com uma grandiloquência patega e, ufanos, respiramos fundo quando conseguimos, finalmente, fazer cintilar um pedacinho arrancado à ilusão de termos um diadema de brilhos imperiais a encimar-nos.
No entanto, as nossas histórias mais perfeitas são normalmente frágeis, pequeninas, fáceis de encontrar, fáceis de contar e fáceis de esquecer.

Encontrei algures uma destas preciosidades. Não há referência ao autor. Reproduzo-a, traduzindo do inglês todas as legendas, sem qualquer interferência minha e sem macular com minha saracoteante e retorcida escrita o que é cristalino, límpido, e de uma pureza apenas visível no que há de essencial.


Numa noite de temporal a minha namorada viu o que pensávamos ser um pardal morto na nossa varanda. Mal respirava, coberto de formigas e completamente cego.

Abrigamo-lo dentro de uma caixa. Depois de passar uma noite no nosso quarto, acordou-nos com um piar agudo.Tentamos alimentá-lo, mas sem sorte. Aproximamo-lo da nossa varanda. Continuou a piar sem parar, durante três horas.

Finalmente, o pai veio ao encontro deste piar e começou a alimentar o pobrezinho. Trazia-lhe insectos e pão a cada 10-15 minutos durante todo o dia, durante duas semanas seguidas.

O pardal estava a ficar maior a cada dia, mas ainda estava cego. Chamamos um veterinário que experimentou um colírio simples. Funcionou como por encanto! O pardalito até se começou a esconder de nós atrás das flores. O pai começou então a mostrar-lhe como voar pela janela.

Um dia acabou por sair. Sabíamos que esse dia chegaria eventualmente. Ficamos realmente preocupados porque naquela mesma noite, e nos dias que se seguiram, houve tempestade. No entanto, três dias depois, o pardal voltou e adormeceu num dos nossos vasos, ao abrigo das flores.


Brilha tanto, não brilha?!