4.9.23

A Gaffe infantilóide


Embora desconheça a existência de um narcisismo maligno e considere que nenhum distúrbio de personalidade dificilmente pode ser considerado benigno, compreendo que se adicione todos os adjectivos mais nocivos a um psicopata.

Trump tem os tiques oratórios de Hitler e gesticula como Mussolini e este somatório - provavelmente apenas imagético - é também uma ameaça, desta feita subliminar, inconsciente, à aparente tranquilidade que soubemos sempre fazer surgir sobre a abominação.
Trump  volta a consubstanciar o renascer do Grande Medo. Aquele que entre outros danos nos vai tornando temerosos perante a eterna maldição humana que permite, confrontados com as atrocidades que são cometidas, encontrar o esconderijo da indiferença, da inocência, da ilusão, do desconhecimento fingido, da impotência elevada a justificação, do distanciamento e da resignação.

À laia de pobre exemplo, ouvi há dois dias na televisão pública, uma senhora a defender, em debate aceso e em programa de audiências elevadas, que basta olhar para a que foi - e que poderá voltar a ser -,  primeira-dama americana, elegante, lindíssima e bem vestida, para se perceber que é feliz, e acredito que são também estes coitados resguardos que nos ameaçam de modo tão perigoso como a assinatura de Trump em decretos na Sala Oval.

O Outro é um sentir alheio a nós, alheio ao nosso. Naturalmente. Sempre foi esta uma das razões para o avançar dos holocaustos.
Para além disto, percebemos que um dos mecanismos mais antidemocráticos do planeta arrisca-se a voltar a entregar a uma criança perturbada um poder desmesurado. Trump tem a idade mental de um miúdo malcriado capaz de birras insolentes e de comportamentos primários, grosseiros, grotescos e animalescos, quando se vê contrariado.
Ver ao longe - um longe que arrepia -, um puto asqueroso com os tiques dos psicopatas que lavraram a desumanidade, a voltar a dominar um país cujo som das picaretas ecoa num planeta de chalaças e de memes e onde a indignação global facilmente se transforma numa máquina poderosa de lavar consciências, devia, pelo menos, fazer com que sentíssemos gangrenar o espaço que nos distância do Outro e perceber que fomos nós a ser interditados e que é contra nós que se erguem os muros.

Uma maçada que me leva a aproveitar enquanto posso os saldos dos voos da TAP para regressar de NY.