20.5.24

A Gaffe depila-se


Uma rapariga esperta depila-se.

Comigo os pêlos - os pelos, a penugem, a nuvem, o sonho, o oásis -, não têm tempo para crescer. Faço meia-perna e axila, diz a minha esteticista, como se eu fosse perneta e no lugar de um braço tivesse um apêndice ligado directamente ao tronco sem aquela covinha tão atraente que uma rapariga esperta gosta de beijar quando a encontra perfumada e apensa a um guerreiro de fazer perder a alma.

Para meu pasmo, quando decidi que a minha meia-perna parecia um porco-espinho, ouvi uma das propostas mais intrigante da minha curta vida. Perguntou-me a madame J., Coiffure & Esthétique, salon Iver & Spa - inventei agora, porque sou discreta -, se eu queria retocar os meus pelinhos da púbis (sic)!
A minha púbis tem muito pouco para retocar, mas o espanto foi tamanho que não resisti a questionar a proposta. Sou informada que há uma imensidão de meninas que solicitam os prestimosos serviços de madame J. que, com imensa perícia tenho a certeza, lhes vai desenhando, com cera depilatória, estrelinhas, luas, rodinhas e mickeys onde o amoroso diabinho deles jamais poderá esquecer as botas e sobretudo os afins.
Para complemento da minha surpresa fiquei a saber que esta liberdade artística já tem seguidores masculinos. Há rapazinhos que gostam de ver a vergonhosa encimada por um belíssimo dragão ou por, quiçá, uma reprodução da Mona Lisa em tons carne e pêlo - pelo, penugem, floresta, matagal, degredo ou ermitério -, correspondente aos seus tipos físicos.

Fico abismada.

Sou uma rapariga esperta, mas assumo que há dentro de mim uma estúpida ingénua pronta a saltar assustada e a abrir a boca de espanto perante modernices deste teor.

Infelizmente não tenho matéria-prima para semelhante arrojo. Acabo por lamentar. Gostava de ostentar um tigre da Malásia a abocanhar a Torre Eiffel com iluminações de Natal ou, em alternativa, um pequeno tesouro publicitário como o que foi um dia encontrado por um querido amigo:

 

Se não sabes o que queres, entra. Eu tenho.