23.5.24

A Gaffe parlamentar


Existia, para uso dos seus oradores encartados, uma lista de termos insultuosos destinados a classificar o inimigo capitalista, aprovada pela antiga Alemanha de Leste, que incluía:

Bajuladores, paralíticos, estéreis traidores da humanidade, servis imitadores de comedores de cadáveres, covardes e colaboradores, bando de assassinos de mulheres, turba degenerada de parasitas tradicionalistas, soldados boémios e janotas presunçosos.

Felizmente que o muro de Berlim foi derrubado e a lista se perdeu debaixo das pedras.
Não há notícia de ali constar qualquer referência maldosa a parlamentares, como, por exemplo:

Histriões de sangue morto com complexos de superioridade; afectados e enfatuados com a mania que conquistaram terra ao mar, mas que ainda não perceberam que não devem ferver toda a comida - incluindo o pão -; toiros metafóricos, inchados e insinuantes, de ossos gelatinosos, que carregam nos dorsos as suas colecções de imbecilidades, de racismo e de misoginia; chimpanzés pálidos e babões que tossem e espirram preconceitos cheios de egoísmo, de importância própria, de compaixão própria, de interesse próprio, ou seja, invadidos pelos aspectos mais negativos das aves de rapina diplomática que cheiram à distância os cadáveres de ideais mortos.

Não há disto nota na lista abandonada.

Sentimo-nos tão felizes!

Ficamos, no entanto, limitados ao que nos é dado observar.
Podemos então concluir que há determinados deputados distribuídos por três tipos físicos bem distintos que se acumulam no extremo dos salões:

- Os pequenos, corpulentos e corados, como o queijo Edam;
- Os mais estreitos, pálidos e maiores, como o queijo Gouda;
- Pesados e duros, sem casca lavada, como o Beaufort.

Estas características fazem da histriónica bancada onde resfolegam a cloaca de uma vacaria e, em consequência, da Assembleia onde folgazam, a senil vaqueira que vai apenas a empurrar sem cajado os bramidos de alguns bezerros lamacentos.