8.6.24

A Gaffe e a mãe deles


Um dos maiores perigos que uma rapariga esperta corre, inicia-se quando o rapagão que pensava descartável lhe anuncia que gostaria de a apresentar à sua santa mãe.
O cérebro faz disparar o alerta vermelho, fazendo-a ouvir as sirenes das cooperações de bombeiros de todas as periferias e as cornetas dos regimentos e das fanfarras da União Europeia.

- Vais ver. A minha mãe é uma óptima companhia!
Uma iguana é melhor companhia do que a mãe dele. Aliás, se pensarmos bem, tudo o que termina em ana - como ratazana, princesa Diana ou mesmo, com algum esforço, o Dolce e o Gabanna - é preferível a ter como parceira esta santa idolatrada.

- Vais ver. A minha mãe tem um excelente gosto!
Se já não conseguíamos entrar na Bershka com receio de sairmos com os tímpanos desfeitos e transformadas em trapos iguais ao que nos impingem lá dentro, agora, sendo a senhora surda, seremos arrastadas para um vórtice de decibéis inimagináveis somando ao catrapum-pum-pum-catrapum-pum-pum da loja, os gritos das empregadas que tentam dizer-lhe o preço das peças muito giras que restaram dos saldos.
A mãe dele não vai nunca entender, com preços tão em conta em peças tão modernas, porque é que olhamos de soslaio a montra, mesmo em frente, onde resplandece um casaco Galliano, extravagante, exuberante, extraordinário e com um preço a merecer os mesmo adjectivos, embora tentemos desesperadamente fazer-lhe entender que o costureiro é tão querido como ela, sobretudo bêbado e posto a falar num café qualquer de Paris.

- Vais ver. A minha mãe vai ensinar-te a receita do cozido à portuguesa que é do outro mundo quando sai das mãos dela!
Este é o instante em que sabemos, sem a menor réstia de incerteza, que a partir dali, o homem, se o aguentarmos depois deste deslize, jamais enfardará cozido à portuguesa ao nosso lado. Se sentir saudades deste exemplar gastronómico, sabe onde o procurar: no outro mundo, ou seja, em casa da mãe dele.

- Vais ver. A minha mãe é uma mulher muito aberta! Vai adorar-te.
Embora parte do dito mereça o nosso acordo - a referência à abertura da senhora não é metáfora, porque a idade não perdoa e faz aumentar a tendência para se abrir, ou para dificultar fechar, tudo o que deveria permanecer discreto, como a boca - o  vai adorar-te sugere não ser má ideia sermos acompanhadas por um exorcista. Não nos podemos esquecer que há mulheres que mesmo depois de dobrada a menopausa, continuam a viver como se todos os dias fossem os dias difíceis. Normalmente gostam de vampiros.

- Vais ver. A minha mãe tem um sentido de humor fabuloso.
Esta tenta proteger-nos. É amoroso da parte do rapaz que admite, com o mais disfarçado dos receios, ouvir a mãe calcinar as nossas irrisórias idiossincrasias com alusões subtis à toxicodependência, ao tráfico de órgãos e aos comunistas.

Não temos hipóteses, raparigas. A mãe dele jamais será a nossa avó - embora nos pareça sempre ter idade para isso.

Nesta figura com estilo, existe um único consolo: possibilita-nos, sempre que o homem nos contradiz, nos contraria, nos irrita, nos resiste, nos abespinha, nos aborrece e nos refuta, não baixa a tampa da sanita ou nos diz que o sushi que lhe preparamos sabe a pastilha de Xau para máquina de lavar loiça e se parece com uma, podermos pensar em surdina:

 

A culpa é da mãe dele!