É curiosa a insistência com que alguns homens debatem os actuais padrões de beleza feminina levando quase à exaustão a matéria em apreço, com uma preocupação exacerbada digna de lesados em primeira instância pela indução publicitária da irrealidade no imaginário da gentalha.
O mais irritante é acharem que erguendo repetidamente o contraste todo inflamado do corpo de rua versus corpo de passerelles, com uma força que supera em muito a nossa, nos vão salvar do despenhadeiro que o corpo do real nos vai mostrando como inevitável destino.
Insistem. Publicam tagarelices. Voltam a publicar dias depois matéria igual. Citam parcerias, pares, parelhas e paradas onde se diz o que repete embora com mais ou menos brilho. Cravam-se nas costas do tema e, de pena magra ou gorda, alta ou baixa, depenam o já sem réstia de penugem e regressam logo que podem e com o mesmo viço ao já estafado. Tornam-se peritos na matéria. Falam por nós, em nós, de nós, preocupam-se connosco e mostram pelo caminho as fotos dos crimes cometidos contra nós.
Esta obcecação pelo modo como o conceito de beleza feminina em vigor nos causa dano, esta obsessão por nos chamar a atenção para os perigos existentes nas ilusões estéticas que nos são vendidas, levam a suspeitar que lhes interessa muito menos o tema do que as fotos que o ilustram. Abnegados, altruístas e justificados, vão espreitando anorécticas e obesas, altas e baixas, gorduchas e as que nem por isso, loiras e morenas, raquíticas ou lutadoras de sumo, aproveitando para, pelo meio, dar uma vistinha de olhos a Monica Bellucci ou passar os olhinhos pelas maminhas de Alessandra Ambrósio comparando-as com as de Fafá de Belém.
Aborrecem. Irritam e depois causam fastio.
Pelo caminho esquecem que, há já bastante tempo, o tema pode ser conjugado também no masculino e que os abdominais bronzeados que nos são enfiados pelos olhos dentro – abençoados fotógrafos - estão a uma distância de anos-luz de ginásios das suas barriguinhas brancas e peludas.
Nós sabemos. O tempo vai-nos ensinando a ser como Móises. Não imaginam as águas que conseguimos separar.
Embora correndo o risco de se cometer um erro crasso e nada BCBG, apetece dizer-lhes baixinho:
- Ide todos bardamerda, queridos. Considerarmos o nosso corpo perfeito ou imperfeito, tem pouco ou nada a ver convosco.
Agora, se me dão licença, vou procurar alguém que tenha a maçada de enfiar uma Barbie pelas goelas abaixo destes juízes-do-feminino, sim?
(Ou pelas goelas acima, se a Barbie entrar por outro lado.)