Esta rapariga confessa que é pouco dada a orgulhos bacocos. Experimentou uma pitadita deste nobre sentimento ao assistir à intrincada inovação eleitoral e pelo facto de Guterres ter sido eleito o candidato mais capaz e que retirou em braços Ban Ki-moon que esteve a dormir na poltrona durante demasiados anos.
Isolado no meio de uma data de candidatos de leste que oscilavam e confundiam outros valores que mais alto se levantavam, ao lado de um outro que não respondia a estratégias geopolíticas dignas de relevo e enquadrado por mais um que a Inglaterra não conseguia engolir, Guterres foi a tabuinha certa numa inundação que teve como afogados principais a Alemanha e a sua titubeante Kristalina que parecia desconhecer o já adivinhado conflito uncraniano, tão ocupada que se encontrava a tentar falar inglês sem deixar de pensar em alemão.
Aliando-se a este cenário, o facto de Guterres se ter revelado indiscutivelmente o melhor candidato - o que prova que um líder desastrado de um partido, um ex-primeiro-ministro medíocre e de tanga, mergulhado num pântano político que não consegue drenar, pode aspirar com o tempo à competência - tornou quase obrigatória a sua eleição e em consequência as manifestações de orgulho pindérico que caracteriza o provincianismo português.
A eleição pontual do mérito e da competência, meus queridos, não é contagiosa. Não se transforma em epidemia e não faz dum conterrâneo eleito a encarnação ou o símbolo de um país, assim como não permite, sobretudo neste caso, que a diplomacia portuguesa desate aos gritos reivindicando um pedacinho das folhas de louro que emolduram o triste, mas valoroso, penteado do Secretário-Geral da ONU.
Continuamos por cá muito pobrezinhos.
Empolamos a alegria, dilatamos o peito, inchamos o ego, ampliamos o orgulho e exultamos - mesmo não sabendo muito bem porquê, ou apenas porque o mérito tem as cores da nossa bandeira -, mas sempre caseiramente à espera de meter a cunha, fazendo lembrar a criaturinha patética que esbraceja em defesa da globalização do arco-íris, da defesa do carrapato do Cazaquistão e do gorila na bruma, da harmonia planetária e da comunhão sem preconceitos entre povos, mas que no aconchego do lar e da sua mesquinhez rancorosa não resiste, à laia de exemplos ou de brisas na tarde, a chamar cenourita a uma ruiva - ou a considerar que uma prostituta que se soltou das esquinas e dos cantos degradados da vida que teve, tem de passar a ser mais dócil, porque existe gente de respeito que faz o favor de a aceitar agora - como se o epíteto, o beliscão lasso que tenta cravar ininterruptamente, não representasse apenas a tristeza da sua permanente crespa, baça e descolorada, ou que uma decisão alheia tivesse de passar pelo seu crivo raquítico para se assumir de pleno direito.
Usamos de modo anfetamínico o mérito dos outros acreditando orgulhosos que dele partilhamos, que nele nos revemos, que ele nos encarna, apenas porque não conseguimos vislumbrar a nossa vacuidade e a nossa mediocridade desfraldada.
Isolado no meio de uma data de candidatos de leste que oscilavam e confundiam outros valores que mais alto se levantavam, ao lado de um outro que não respondia a estratégias geopolíticas dignas de relevo e enquadrado por mais um que a Inglaterra não conseguia engolir, Guterres foi a tabuinha certa numa inundação que teve como afogados principais a Alemanha e a sua titubeante Kristalina que parecia desconhecer o já adivinhado conflito uncraniano, tão ocupada que se encontrava a tentar falar inglês sem deixar de pensar em alemão.
Aliando-se a este cenário, o facto de Guterres se ter revelado indiscutivelmente o melhor candidato - o que prova que um líder desastrado de um partido, um ex-primeiro-ministro medíocre e de tanga, mergulhado num pântano político que não consegue drenar, pode aspirar com o tempo à competência - tornou quase obrigatória a sua eleição e em consequência as manifestações de orgulho pindérico que caracteriza o provincianismo português.
A eleição pontual do mérito e da competência, meus queridos, não é contagiosa. Não se transforma em epidemia e não faz dum conterrâneo eleito a encarnação ou o símbolo de um país, assim como não permite, sobretudo neste caso, que a diplomacia portuguesa desate aos gritos reivindicando um pedacinho das folhas de louro que emolduram o triste, mas valoroso, penteado do Secretário-Geral da ONU.
Continuamos por cá muito pobrezinhos.
Empolamos a alegria, dilatamos o peito, inchamos o ego, ampliamos o orgulho e exultamos - mesmo não sabendo muito bem porquê, ou apenas porque o mérito tem as cores da nossa bandeira -, mas sempre caseiramente à espera de meter a cunha, fazendo lembrar a criaturinha patética que esbraceja em defesa da globalização do arco-íris, da defesa do carrapato do Cazaquistão e do gorila na bruma, da harmonia planetária e da comunhão sem preconceitos entre povos, mas que no aconchego do lar e da sua mesquinhez rancorosa não resiste, à laia de exemplos ou de brisas na tarde, a chamar cenourita a uma ruiva - ou a considerar que uma prostituta que se soltou das esquinas e dos cantos degradados da vida que teve, tem de passar a ser mais dócil, porque existe gente de respeito que faz o favor de a aceitar agora - como se o epíteto, o beliscão lasso que tenta cravar ininterruptamente, não representasse apenas a tristeza da sua permanente crespa, baça e descolorada, ou que uma decisão alheia tivesse de passar pelo seu crivo raquítico para se assumir de pleno direito.
Usamos de modo anfetamínico o mérito dos outros acreditando orgulhosos que dele partilhamos, que nele nos revemos, que ele nos encarna, apenas porque não conseguimos vislumbrar a nossa vacuidade e a nossa mediocridade desfraldada.
Vestimo-nos de Batman e rabiscamos obscenidades nos WC da vida.
No entanto, Guterres é fácil de menorizar, de minimizar, de subvalorizar, assim como foi fácil para - em tempos que já lá vão - esta rapariga pouco inteligente, embarcar ela também na canoa do rasteiro e do idiota.
A Gaffe pede perdão ao Secretário-geral da ONU e não pode deixar de se orgulhar, verdadeiramente, da inteligência, da dignidade, da coragem, do recato e da nobreza com que Guterres prova que o planeta só tem que aprender com líderes destes e que nem sempre o prémio Nobel da Paz é devidamente atribuído.