1.7.24

A Gaffe com amoras


Os homens chegam no vidro do fundo da tarde dos insectos, com sangue de frutos na camisa. Descem os caminhos com a mão na terra. Lavam o silêncio para ser entregue à turva obscuridade dos rapazes feridos. Pousam na madeira a cor de amora ou dos olhos rasos no ninho das águas do rio ou da ardência do mordido. Há uma nuvem a escorrer da boca dos homens. O sabor da sombra na boca ou apenas sombra sem boca nenhuma. Os homens chegam ao falar das pedras que rezam a longevidade das raízes. Depois ouvem o rumorejar da corrente. lançam lenços escarlates no vento do parapeito dos socalcos. Entregam-se à água e contam as contas que o rio tem nos colares da lua. Trazem marés nos cabelos e sorrisos vermelhos cobertos pelo vento com saudade da foz.

A casa dos homens tem sabor a frutos e a rapazes feridos a morder as águas do rio como um remo.

O Douro será colhido verde por rapazes feridos por amoras.

Imagem - Ellen T. Fisher, 1887