1.7.24

A Gaffe dos moluscos


A Gaffe foi apresentada a um senhor muito respeitável que lhe apertou a mão com uma amenidade extremada.

O senhor tem um sorriso pálido, mas é bonito, atraente e de alto e bom som. Elegante no seu fato azul de seda musculada. A Gaffe percebeu o subtil alvoroço feminino a emergir quando ele entrou.

O senhor estendeu o tentáculo.

Os dedinhos finos e frios tocaram na pele desta rapariga que sentiu a textura de um molusco húmido e escorregadio a roçar-lhe a palma da mão.
O contacto foi brando e breve, quase nada. Um roçagar, um leve fluir de corpo frio de bicho morto e esfolado.
A mão do senhor recolheu-se mole mergulhando nos confins lodosos do escuro do bolso.

A Gaffe ficou a pensar em como deve ser nauseante ser beijada por este senhor. Percebeu então que o beijo de um homem começa nas mãos. São elas que prendem e empurram as cordas que agarram o baloiço das bocas.

Fotografia - Brassaï