24.9.24

A Gaffe abençoada


Aquando do sorteio, os deuses retiraram a bola branca que me dava acesso a quase tudo, sem restrições ou constrangimentos. Foram largamente generosos comigo e permitiram que conhecesse homens raros, extraordinários e fascinantes.

Existiu o que se aproximava da maior beleza. Estranho como uma tulipa cambaleando sonâmbula no som que os pássaros soltam de ramo em ramo.
Existiu o que não era mais do que o rasto que fica como a ferida de um fruto que se acaba de morder. Um fruto vermelho, uma romã, uma cereja ou a mordida feroz num coração despercebido.
Existiu o desigual, o que dizia amar e nesse dizer do amor que sentia não sentindo oscilavam as cores com que as aves fazem ninho.
Existiu o de alma escura que permitia a inacabada antítese da paisagem do seu corpo loiro.
E existe aquele que se equilibra no ténue fio que separa o génio da loucura. O que endoidece nas palavras ao mesmo tempo que lhes entrega a alma inteira tornando-as pão e água nos desertos.

Os deuses foram tão generosos comigo!
Fotografia de Frank Horvat para Givenchy