É curioso percebermos que neste recanto à beira mar plantado uma criatura é uma revelação até encanecer.
A Gaffe acaba de ouvir classificar como tal, duas criaturas, provavelmente menos jovens do que aquilo que parecem fazer crer, que há já uns anitos largos começaram a cantar.
Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes – ou Bárbara Deslandes e Carolina Tinoco? – continuam, portanto, revelações cintilantes e aplaudidas nos palcos de um contentamento despropositado.
A Gaffe não deve - mas pode, mas quer! - conspurcar as imagens que ambas as meninas escolheram para nos brindar. Se Deslandes nos surge embrulhada numa corrente trash-pimba, um patato sack look com apontamentos nostálgicos, mas brevíssimos, de punk escorrido, a Tinoco segue as pisadas pimba-chic de Marisa Liz, embora com um travo minimal que acentua o seu arzinho de petiza muito fofa.
As duas revelações são duas maçadas.
Se Ouvirmos a Deslandes durante um razoável período de tempo, começamos a inclinar a cabeça para trás, a babar, a revirar os olhos e a aproximarmo-nos de um vegetal que já viu melhores regas. Deslandes, por muito que varie o repertório, canta sempre o mesmo, no mesmo pio, no mesmo tom, no mesmo som, no mesmo registo, na mesma merda - pardon my french - e estes detalhes fazem toda a diferença entre viver uma vida saudável, desportiva, muito fit e isso tudo, tudo, tudo, e enfardar hambúrgueres vegan para depois sentar, babar e vegetar.
A Tinoco tem a vozinha de uma ratinha da Disney.
A Gaffe suspeita que com umas orelhinhas fofinhas plantadas na cabecinha desta revelação até se acredita que a menina é mesmo uma ratinha de estúdio Disney, pois que nada tem de biblioteca, embora qualquer coisa vaga lembre uma bibliotecária angelical.
Estas duas revelações são exemplo do quanto é comum nesta reserva de nabos, a edificação de umas imagens que nos entopem o discernimento e nos convencem que vale a pena, custe o que custar, manter à tona o que provavelmente não resistiria a uma mais apurada ondulação.
Transversal a toda a escapadela artística, estes pequenos equívocos de aparência inconsequentes, acabam, por exemplo, por revelar Inês Pedrosa como escritora de merecido escaparate, reconhecimento, boa pena e grande texto, bela montra e bonita e prolongada exposição mediática. Sabemos, no entanto, que é, como se dirá, poucochinho os escritos da senhora que não conseguirá nunca descolar da segunda linha das escritas portuguesas.
Esta pouco inteligente forma de consumir produtos é favorecida pela escassez da oferta e sobretudo pela diminuta dimensão da exigência do consumidor que sendo e sabendo como é, está convencido que qualquer bacalhau lhe faz a consoada.
Como dizem os meus velhos e extraordinários durienses, a última bubida da festa é sempre um camelo que a bebe.
É pena que a festa termine no deserto.