A única Revolução que teve origem única e exclusivamente no povo, foi aquela que fez tombar a cabeça da rainha que comia brioches espantada com os súbditos que, sem pão, não experimentavam o mesmo.
Fez oscilar e vacilar as restantes monarquias europeias, alterando substancialmente a visão do massacre em nome de maiores valores erguidos em bandeiras comunitárias e consagrou até hoje o trio Liberté, Égalité, Fraternité como divisa da República Francesa, inscrevendo-o na sua Constituição.
Deixou-se contaminar posteriormente pela peçonha de oportunismos e de outras violências mais palacianas, aparentemente menos sangrentas, mais comezinhas, mais caseirinhas, menos idealistas, desvinculadas do querer daqueles que a levaram nos punhos, e nas almas à míngua, para as ruas de Antoinette. É história para contar depois.
Em Paris já não se ouve o grito tricolor - mesmo com o azul mais carregado -, mas a fúria de hoje é parecida com aquela que não se quer rever e tem como herói Éric Zemmour, o intelectual inteligentíssmo que se apercebeu da manipulável desistência dos povos que não comem brioches e que têm uma Europa que lhes devora o pão.