Esta casa foi adquirindo uma entidade própria e uma determinação indómita. Foi, enquanto o tempo avançava, sobrepondo o desejo das pedras à vontade dos donos de modo que se deixou de perceber quem dominava quem. Como no poema, o senhor torna-se servo, por amor.
Esta casa foi construindo as ordens, foi solidificando o
poder da pedra sobre a carne, foi erguendo o seu esmagador domínio sobre os que
a deixaram de ter, porque ela os tem.
Decide quem entra, escolhe quem será expulso e responde
agressiva àqueles que sem o seu consentimento se atrevem a passar. Nunca passam
se forem ameaça. Nunca passamos se lhe causarmos ciúmes. Não somos acolhidos se
arriscamos o amor dos que são dela.
A casa contém o interdito e cuida dos fantasmas. Não permite
a invasão da mais ínfima partícula de Esperança. Impede a luminosidade dos
pássaros e a cumplicidade dos amantes.
Como se ficássemos sempre a dois palmos do portão.
Deixamos há muito de ter alguém a combater as pedras.