A cidade mais próxima dista cerca de dez Kms daqui.
É uma povoação pequena, com um centro histórico relativamente bem preservado, rodeado de caóticas construções coloridas e empilhadas.
Cidadezinha quente com gente prematuramente envelhecida e uma película de jovens amorfos e incaracterísticos.
Lembro-me que no Porto, se desejamos ser atendidos com alguma rapidez, basta fazer tilintar as moedas no tampo das mesas dos cafés de modo a que o empregado o consiga ouvir. Parece ser reflexo condicionado. Experimentamos e resulta quase sempre. O som dos sininhos do dinheiro apela à missa. Aqui esse pequenino e maldoso truque não resulta. O rapaz encostado ao balcão olha pasmado a pasmaceira e não há tilintar que o faça desviar do morno do sono dos olhos parados.
Sento-me e a espera cruza as pernas e tamborila na mesa com os dedos.
Nada acontece e na mesa de tampo de madeira e vidro, a jarra pequena com uma flor já murcha tem o ar de coisa pornográfica.
O dia vai passando connosco ao largo.
Admito que é impossível ficar muito tempo aqui sem sermos preenchidos por uma espécie rara de nostalgia enevoada. Talvez surja do silêncio ou da imensidão sussurrante das árvores ou das águas pacíficas que espelham quase negras as silhuetas dos velhíssimos teixos. Talvez os dias que passem sem sentirmos, iguais em cada dia a passar, insinuem ter dentro uma forma estranha de destruição que alagará as almas a qualquer instante e de surpresa.
A minha sorumbática atitude arrasta-se pelas horas devagar. Sinto-me pasmada, parada e sem vontade. Espalho-me pelos cantos e admito sem pudor ou embaraço a minha indiferença a tudo. Passo pelas ruas, inútil e dispersa. Nada é quente.
A imensa e doentia dolência que entristece este lugar parece fazer vítimas constantes.
Aqui no Douro não se deseja muito. Aguarda-se só que o tempo se espreguice e no bocejar do tempo sem palavras e sem gestos, espera-se o derramar das horas.
Aqui no Douro a globalização é ilusória. A tão publicitada conectividade do indivíduo com o planeta inteiro é um ignorado paspalho mentiroso.
Tudo é distante. Tudo é desmesuradamente isolado e a extensão deste isolamento entrega corpo à insignificância do que somos ou sentimos e aniquila a idiota soberba, a ridícula arrogância, a inútil sobranceria e o patético pretensiosismo humano.
Perdemos, nas lides cosmopolitas, as noções de distância e de extensão. O facto é terrivelmente lamentável. O longe é imprescindível para a relativização da nossa dimensão. A pequenez incomensurável do humano é sentida através do quanto é longínquo determinado espaço que queremos alcançar, de como é extenso o caminho a percorrer pelo nosso desejo de encontro. Dizem que a grandeza do homem se mede pela vergonha que sente. Creio que a pequenez pode ser calibrada, mensurável, determinada pela lonjura e pela distância entre o ponto em que permanecemos, somos ou estamos, e aquele que desejamos encontrar.
A cidade mais próxima dista cerca de dez longos e realmente palmilhados Kms daqui e temos saudades de manuscrever cartas.
Nada acontece e na mesa de tampo de madeira e vidro, a jarra pequena com uma flor já murcha tem o ar de coisa pornográfica.
O dia vai passando connosco ao largo.
Admito que é impossível ficar muito tempo aqui sem sermos preenchidos por uma espécie rara de nostalgia enevoada. Talvez surja do silêncio ou da imensidão sussurrante das árvores ou das águas pacíficas que espelham quase negras as silhuetas dos velhíssimos teixos. Talvez os dias que passem sem sentirmos, iguais em cada dia a passar, insinuem ter dentro uma forma estranha de destruição que alagará as almas a qualquer instante e de surpresa.
A minha sorumbática atitude arrasta-se pelas horas devagar. Sinto-me pasmada, parada e sem vontade. Espalho-me pelos cantos e admito sem pudor ou embaraço a minha indiferença a tudo. Passo pelas ruas, inútil e dispersa. Nada é quente.
A imensa e doentia dolência que entristece este lugar parece fazer vítimas constantes.
Aqui no Douro não se deseja muito. Aguarda-se só que o tempo se espreguice e no bocejar do tempo sem palavras e sem gestos, espera-se o derramar das horas.
Aqui no Douro a globalização é ilusória. A tão publicitada conectividade do indivíduo com o planeta inteiro é um ignorado paspalho mentiroso.
Tudo é distante. Tudo é desmesuradamente isolado e a extensão deste isolamento entrega corpo à insignificância do que somos ou sentimos e aniquila a idiota soberba, a ridícula arrogância, a inútil sobranceria e o patético pretensiosismo humano.
Perdemos, nas lides cosmopolitas, as noções de distância e de extensão. O facto é terrivelmente lamentável. O longe é imprescindível para a relativização da nossa dimensão. A pequenez incomensurável do humano é sentida através do quanto é longínquo determinado espaço que queremos alcançar, de como é extenso o caminho a percorrer pelo nosso desejo de encontro. Dizem que a grandeza do homem se mede pela vergonha que sente. Creio que a pequenez pode ser calibrada, mensurável, determinada pela lonjura e pela distância entre o ponto em que permanecemos, somos ou estamos, e aquele que desejamos encontrar.
A cidade mais próxima dista cerca de dez longos e realmente palmilhados Kms daqui e temos saudades de manuscrever cartas.