9.8.22

A Gaffe num instantinho


Um homem, por muito que nos custe admitir,  quando é solicitado para tarefas que normalmente lhe são adversas, conhece apenas três frases:

 

Vou já.


Só um minuto.


Espera aí.


Se não somos geólogas, não vamos perceber que os rochedos na banca da cozinha resultaram da mineralização dos restos de pizza do jantar do rapaz que nos prometeu que vinha enfiar a louça na máquina. Se não somos arqueólogas jamais daremos valor ao fóssil que encontramos no fundo da gaveta masculina que data do tempo em que lhe pedimos para se descartar da conchinha - linda, linda, linda -, que encontrou nas Caraíbas há milénios e que seria corrida porta fora num minuto. Se não somos a Madre Teresa acabamos com o seu glamour se esperarmos aqui que o Sporting vença o desafio que só dura mais um minuto. Se estamos num dia mais chuvoso - e todas temos os nossos dias difíceis, menos Christine Lagarde que tem os dos outros -, é aconselhável criarmos o hábito de fazer repousar a nossa paciência nos lençóis encharcados que o rapagão estenderia ao sol se esperássemos uns instantinhos. Se temos tendência para uma reserva compostinha, vagamente puritana e não queremos insinuar que uma orgia é sempre bem acolhida no aconchego do lar, é conveniente furarmos os olhos às tias velhas que nos visitam, porque o rapaz continua de cuecas, perna alçada e meias arco-íris, enquanto esperamos aí um minuto que vá já trocar de preparos, que as velhas prometeram na véspera uma visitinha de cortesia.

Estas manigâncias não são forçosamente desvantagens.

Enquanto o rapagão nos brinda com o vou já, o só um minuto ou o espera aí, podemos perfeitamente vestir a nossa lingerie mais etérea, retocar a nossa imagem de diva esvoaçante e sair ao encontro do nosso amante furtivo que nos proporcionará o chamado sexo mágico - fazemos e desaparecemos.

Voltamos já, demoramos só um minuto e ele espera ali.

A louça do jantar que fossilize.