28.2.23

A Gaffe astronauta


Portugal, diz Luís de Freitas Branco, é um país de miniaturistas.

Reportava-se o compositor à proliferação de pequeníssimos acontecimentos culturais que grassavam por todo o lado, mas que não se aglutinavam, nem se agigantavam, servindo desta forma os interesses daqueles que considerava limitados e incapazes de projectar um país a longo prazo.

Ao mesmo tempo, o compositor lamentava a miserável falta de reconhecimento dos homens e dos factos que poderiam, se elevados, alterar esta raquítica forma de arquitectar um país usando-se apenas as folhas de um bloco de apontamentos muito pouco definido e demasiado parco em espaço.

A verdade é que Luís de Freitas Branco não nos fornece pistas, não nos indica nomes, nem nos entrega acontecimentos capazes de edificar no país uma ambição de gigante.

Maroto.

Há, contudo, pelo menos um facto, relativamente recente, que contraria este dito acutilante, não urgindo recorrer a ilustres navegadores de antanho.

Fomos capazes de projectar na História a visita do primeiro cosmonauta a Ourém.

O sapientíssimo padre Gonçalo Portocarrero de Almada, 4.º visconde de Macieira e prelado do Opus Dei,  num extraordinário artigo, para além de lamentar não ser possível considerarmos a ascensão de Cristo - acontecimento, que os apóstolos observaram atentamente, o que dá a este facto consistência científica e sendo comprovada a evidência do ocorrido por uma quantidade significativa de anjos – a primeira viagem espacial, dado que Cristo é o próprio Criador, com o Pai e o Espírito Santo, informa-nos que, mesmo sem foguetão, a primeira criatura humana a viajar pelo espaço foi, nada menos, nada mais, que Nossa Senhora.

Pese embora o esforço de Pio XII que decidiu o que aconteceu – e que ninguém pie -, nem o magistério pontifício, nem as visões dos místicos, nem os ensinamentos dos teólogos lograram explicar como ocorreu o transporte de Nossa Senhora, na sua elevação ao Céu, que também ninguém observou. No entanto, esta questão parece ter sido esclarecida nas aparições em Fátima.

Como se reconhece, Fátima é o Altar do Mundo e uma das pistas de aterragem da nave da ilustríssima cosmonauta.

Foram portugueses os que forneceram estes dados ao planeta e deles deram notícia global.

Após interessantíssimas considerações, o Padre Gonçalo Portocarrera de Almada termina a sua admirável tese, comprovando que, pelo dito, Maria não foi uma mera espectadora da História, mas uma protagonista e precursora de uma das maiores proezas da humanidade.

E finalmente:

Os santos não são os que, por amor a Deus, se desinteressam do mundo, mas os que, com a sua bem-aventurada vida, mais e melhor contribuem, também em termos científicos e tecnológicos, para a evolução do género humano: os principais obreiros das verdadeiras revoluções civilizacionais.

Foram os portugueses que acolheram esta verdadeira revolução civilizacional e dela deram notícia, espalhando ciência pura pelo mundo.

Habituada a resignar-se com Portocarrero de Almada, a Gaffe ainda consegue ficar atónita perante mais esta ilustríssima treta na mesma linha do artigo anterior, mas banhada na benta água de Iscariotes.

A Comissão de Inquérito aos abusos sexuais de menores cometidos pela igreja decidiu entregar o relatório final a quem lhe tinha encarregado esse trabalho, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), à qual competia a sua análise e divulgação. Foi, portanto, escusada a apresentação pública pela CI, em ambiente de grande espectacularidade mediática. Dada a gravidade da matéria, teria sido preferível um estilo mais sóbrio e que, por respeito pelas vítimas e pela sua dor, se evitasse a descrição de episódios escabrosos.

Mas adiante, que se faz tarde:

A hierarquia católica não enjeita as suas responsabilidades no que se refere aos abusos de menores, mas, segundo a lei portuguesa, não é crime o encobrimento de situações desta natureza, por quem não tem o dever de ofício de os denunciar, como é o caso dos bispos diocesanos em relação a abusos praticados por elementos do seu clero.

Enquanto pessoa moral colectiva, a Igreja não é responsável pela actuação dos seus ministros quando estes, desobedecendo gravemente aos compromissos assumidos na sua ordenação sacerdotal, ou na sua profissão religiosa, procederam criminosamente. A Igreja também não responde por outros delitos – furtos, infracções de trânsito, etc. – perpetrados, a título individual, pelos seus ministros. Aliás, a Igreja, nas pessoas dos cristãos abusados e do dano causado ao seu bom nome, é também vítima.

Luís de Freitas Branco, meu querido, pegue e embrulhe. Vai precisar de muito papel que isto não é, de todo, coisa pequena.