Eva van Oosten |
O meu apartamento no Porto é límpido, com uma luz domada e esculpida e uma amplitude agradável.
A minha irmã provou ser capaz de organizar o espaço de forma a cativar a insensatez de um doido. Foi decorado com critério e com o cuidado de quem não pactua com a inocência do sobejo. Existe a clareza do objecto e a exacta definição das formas aliadas à discutida arquitectura do desconforto que tem na minha irmã uma acérrima defensora.
Segundo o conceito, todos os espaços devem transmitir o ergonómico aconchego de um lugar sereno e adaptado a quem o usufrui, mantendo um saudável diálogo com quem o habita, mas conter em simultâneo o incómodo que provoca o movimento de procura de equilíbrio, a inquietação, a quase desarmonia que impede o desabar e o espapaçar da alma no perfeito.
Perita na área do desassossego, da inquietação e do transtorno, a minha irmã moldou a casa de modo a que dentro dela eu sinta a falta estranha e indecifrável de não saber de onde chega a serena sensação de me sentir bem. Este discutível olhar a arquitectura, a que escolhi chamar arquitectura do inquieto, porque sempre me agradou a polissemia, é o reflexo desta mulher na obra.
Há mulheres que provocam nos outros o embaraço, a oscilação entre o que é desumanamente belo e a incerteza mais terrena, a sensação de inexplicável desarmonia e a urgência de entendimento sentido imperfeito sem o ser visível. Esta estranha atitude, esta quase indecifrável posição, perante a obra arquitectónica e perante a vida, tem por vezes a face do exagero, aliado ou caminho seguro para o kitsch, mas - triunfo do termo que nomeia a noção - abre para a luminosidade do rigorosamente inteligente e do impecavelmente pensado, como a excessiva porta de entrada de um apartamento que se abre para a mais absoluta e simples claridade.
Perita na área do desassossego, da inquietação e do transtorno, a minha irmã moldou a casa de modo a que dentro dela eu sinta a falta estranha e indecifrável de não saber de onde chega a serena sensação de me sentir bem. Este discutível olhar a arquitectura, a que escolhi chamar arquitectura do inquieto, porque sempre me agradou a polissemia, é o reflexo desta mulher na obra.
Há mulheres que provocam nos outros o embaraço, a oscilação entre o que é desumanamente belo e a incerteza mais terrena, a sensação de inexplicável desarmonia e a urgência de entendimento sentido imperfeito sem o ser visível. Esta estranha atitude, esta quase indecifrável posição, perante a obra arquitectónica e perante a vida, tem por vezes a face do exagero, aliado ou caminho seguro para o kitsch, mas - triunfo do termo que nomeia a noção - abre para a luminosidade do rigorosamente inteligente e do impecavelmente pensado, como a excessiva porta de entrada de um apartamento que se abre para a mais absoluta e simples claridade.