A casa onde passo o tempo dos socalcos tem no centro uma imensa clarabóia por onde jorra a noite e o dia. Há uma perene cascata de luz que nos encharca, porque mesmo o luar entra como um caminhante.
Reflectida no enorme espelho barroco com garças pintadas, envelhecidas e de bicos erguidos, eternos à procura do vento que lhes abra o espaço, a luz reproduz-me sempre que ali entro.
Ao contrário do que seria de esperar, não gosto de espelhos.
Quem sou, ali? Serei eu ou será aquela que eu seria se tivesse o meu caminho sido o outro? Será a mulher reflectida o que o seguiu, sem as amputações na alma que o tempo vai fazendo, ou sou esta que se vê a ver, inevitável?
Não gosto de espelhos. Entregam-me a irresolução ao lado da certeza de que há uma mulher que nunca vou viver, que olha para mim sem dizer nada.
Quem sou, ali? Serei eu ou será aquela que eu seria se tivesse o meu caminho sido o outro? Será a mulher reflectida o que o seguiu, sem as amputações na alma que o tempo vai fazendo, ou sou esta que se vê a ver, inevitável?
Não gosto de espelhos. Entregam-me a irresolução ao lado da certeza de que há uma mulher que nunca vou viver, que olha para mim sem dizer nada.