23.4.23

A Gaffe maravilhada


Ele tem olhos de iluminado. Grandes, abertos pelo silêncio. Os nossos sons ecoam dentro deles como nas abóbadas de duas catedrais e, quando nos calamos, as palavras ditas antes da mudez parecem silvos de balões largados no ar, a perder a forma.
E diz-me
Os terraços de Abril são o prodígio
Onde sacodes as crinas da alegria
E no limpo rumor do riso das cerejas
Há limoeiros brancos e rouxinóis de espuma
Nos clarins de luz dos teus cabelos
Assomam os cavalos cor de fogo
Abril com a luz pousado no regaço
Um sol de porcelana que demora
Criança trevo e cal amotinada
Nos terraços da febre das cigarras

Tu és a luz a abrir as rosas ruivas
E a prometida floração das águas