Não gosto de souvenirs. Não gosto sequer de os receber. Não entendo como se podem oferecer pequenas recordações para que sintamos que, quem as comprou, se divertiu sem a nossa presença.
As únicas recordações que valem a pena são as que a minha prima dispensa, porque se abastece sempre na Louis Vuitton, e a única que me ficou na memória foi aquela que insistiu em trazer da Rússia para a minha tia. A estola de vison corria o risco de ficar retida pela burocracia e pelos entraves que se fazem sentir a esta espécie de tráfico. A minha prima insistiu e encontrou a derradeira possibilidade de passar impune. Ei-la dentro de um vestido de seda esvoaçante, sandálias vertiginosas e o nécessaire à tiracolo, debaixo de uma temperatura de 40º à sombra, com ar de diva envolta em enfado, de cabeleira farta enfiada no gorro do mesmo bichinho que acabou a fazer companhia à estola traçada nos ombros, indiferente ao espanto de um aeroporto inteiro incapaz de ousar despir uma Hayworth enfastiada, mas esbaforida.
No entanto, nenhuma recordação - chamemos-lhe presente, das as circunstânicas que hoje se vivem... - me causou tanta surpresa como aquela que me foi entregue hoje.
Fugida da Grécia, a minha prima, com o cuidado de quem manuseia a mais delicada jóia, a mais frágil das bolas de sabão, retira da carteira um caco. Um caco. Literalmente um caco. Um pedacinho de pedra, roliço e ocre, que se esfarela doentio e com a descarada altivez de perita em Cultura Clássica, entrega-me aquilo etiquetado:
- Apanhei-a e roubei-a no Parténon. É proibidíssimo! Somos torturadas por aqueles guardas belíssimos de saias brancas e pompons pretos se somos apanhadas a desviar estas relíquias. Tens na mão um pedaço de história. Lembra-te que é muito possível que Platão - quiçá Aristóteles - tenha calcado o que agora é teu.
Atira a cabeça para trás, faz voar a cabeleira e o perfume solta-se no espaço marcando o território.
- Pensei comprar-te o novo perfume da Cartier, mas descobri que na Grécia só há quinquilharia e que se queremos qualquer coisita original, temos de lhe deitar a mão.
Tenho agora na carteira um pedaço de filosofia a esfarelar.