30.4.23

A Gaffe pipoqueira


Já lá vão alguns anos que troquei o cinema por outro qualquer espectáculo onde não seja permitido comer pipocas.

Asfixio com o cheiro a pipocas. Longos metros ao longe sinto-as e longos metros ao longe começo a ter sérios problemas existenciais. Jamais assisti em CinemaScope, envolta numa nuvem de bem-estar cinematográfico, ao pranto de Scarlett O’Hara ou ao adeus da Bergman a Marrocos, porque temo esbardalhar-me ao lado de algum triturador sonoro de pipocas e morrer sufocada e surda.

A importação do costume americano de trincar alto e bom som coisas açucaradas no negrume de salas povoadas, destrói qualquer vislumbre de prazer, a não ser que tenhamos entrado num daqueles aposentos muito marotos cheios de gente muito dada.

Comer pipocas no cinema não é, de todo, BCBG. É tão charmoso como comer bolo-rei de boca aberta disparando migalhas pelos pobrezinhos; é tão elegante como as selfies no facebook, sobretudo as que se tiram às mamocas e as peitorias dos mais machos; é tão inteligente como uma deixa de Cristina Ferreira; é tão civilizado como o discurso de Ventura; é tão inocente como uns tantos ministros portugueses subitamente francófobos por tanto lidar com Christine Ourmières-Widener
; é tão sofisticado como um sorriso de Catarina Sarmento e Castro; é tão criativo como o penteado da Secretária de Eatado da Cultura e tão próximo de ser promovido como um trolha e um soldador de Joana Vasconcelos.

Comer pipocas no cinema equivale a usar meias brancas e chinelos no meio de uma recepção na embaixada timorense. Mesmo pensando que não se nota muito, corremos sempre o risco de sermos expulsos.