24.5.23

A Gaffe numa caçada

Mirko Hanák

A Gaffe considera o amor abnegado uma coisa do outro mundo.

Uma criatura engole as lâminas, se o seu grande amor quiser deixar crescer a barba. Uma criatura rasteja toda depenada, se o seu grande amor tiver decidido colar umas penas nas costas e fazer de conta que voa.

É bonito.
Não há grilhetas.

A alforria do amor da nossa vida é coisa dele e há que não quebrar os cristais da autonomia. Não ocupamos o espaço que é do outro, porque estamos cientes da total independência e da santa liberdade que não podemos conspurcar com pieguices nossas, com a mania que temos de arrancar com os dentes o coração de quem amamos e deixar o infeliz ali descarnado, com um buraco no peito, bem visível, para que toda a gente perceba que dali já não leva um pirolito.

Uma criatura deve ser abnegada, pois que as coisas boas são todas muito principescas, muito Saint-Exupéry.

É difícil contra-argumentar, a não ser se formos nobres inglesas numa caçada à raposa. É provável que se dispare.