10.6.23

A Gaffe das pilocas

A Gaffe decide homenagear todos os homens dedicando alguns conselhos às mulheres que vão atravessando as camas onde por descuido, acaso, ou premeditação, os marotos adquirem o estatuto que lhes permite chamar filha a alguém e onde se espera justifiquem cabalmente a existência das pilas.

A Gaffe implora que as suas companheiras de folguedos a leiam com redobrada atenção, pois que é neste pequeno repositório de alertas que pode residir a chave para a harmonia do casal.

Há regras de oiro que não podem ser quebradas quando a piloca está em jogo. Uma rapariga tem de as conhecer se não quer um divórcio complicado ou a responsabilidade de ter de encontrar um psiquiatra para o parceiro mentalmente destroçado.

Enumeremos as quatro magníficas. Haverá mais a seu tempo, que Roma não se fez num dia e algumas pilas levam anos a edificar.  

I - Não pasmar quando surge uma pila pela frente

Sobretudo quando já a conhecemos d’outros carnavais.  

Uma rapariga que esbugalha os olhos, deixa cair o queixo, e durante um tempo que vai parecer interminável, se imobiliza, estaca, estanca, petrifica, com um allure aterrorizado, pode ser interpretada erradamente e fazer com que pareça que a pila não é de todo a Passagem de Ano em Nova York. A pila acaba inevitavelmente por sentir que mirrou, que se delapidou por completo durante as actividades anteriores à observação, que lhe fugiram componentes que impediam que aparecesse como uma personagem amiga da Branca de Neve, que tem um rato morto preso nos tintins ou, o que é arrasador, acreditar que este maior orgulho do seu dono mais lindo, não é mais do que o Gollum do Senhor dos Anéis.

II - Não brincar com pilas sérias

Uma pila, minhas amigas, não é de todo uma Barbie.

Não é com uma pila que podemos experimentar bater naquelas coisas muito americanas que largam confettis, serpentinas e papelinhos, quando rebentam. Uma pila não é um helicóptero! Uma pila não é de plástico - embora sabendo, minhas queridas, que as há bem jeitosas nas lojas da especialidade, não é a mesma coisa, diz quem sabe. Uma pila não é capaz de tomar chá por chávena com o Mickey estampado, na baby party da prima grávida que obviamente já a experimentou. Uma pila não joga à macaca, nem salta à corda - salvo algumas excepções, que não se referem aqui por pudor e decência e sobretudo porque há tesouros que devemos guardar só para nós. Uma pila não é um cavalinho de pau - embora neste caso exista, muito aplaudida, opinião contrária – e não pode ser incluída nos nossos carrosséis. Um pila tem de ser respeitada e tratada de modo adulto. Brincar com pilas, minhas caras, é brincar com fogo. Só o devemos fazer se pertencer a um bombeiro de calendário.      

III - Não baptizar uma pila

Nenhuma pila gosta de diminutivos.

Chamar Zézinho, Manelinho ou Francisquinha a uma pila - ou nomeá-la como se fosse um bichinho -, é matá-la. É menosprezar, achincalhar e humilhar uma pila desatar aos gritos nominais - Ai, bichaninha! Ai, meu Luizinho! Se páras dou-te um soco nos alforges! - durante aquele minúsculo período de tempo em que funciona capazmente. Berrar pelo Quim Zé, ou pelo Pedrinho, ou pelo Martim, ou Bernardinho – pilas de boas famílias - pode perfeitamente fazer surgir à porta uma pila diferente da envolvida no caso e toda muito contente.

IV - Não permitir que uma pila apareça como quiser 

Uma pila não nos pode aparecer desnuda.

Se quiséssemos uma pila depilada matávamos a Barbie e ficávamos com o Ken – que para todos os efeitos, é de plástico … -, mas não é necessário que pareça ter-se aliado ao Estado Islâmico. Há pilas que impedem que lhes vejamos os olhos! Há pilas que são terroristas barbudos, sem poder de encaixe e sobretudo sem qualquer célula activa. Há pilas que se julgam Tarzan e que desaparecem no meio da selva sem sabermos sequer se de liana em liana. Há pilas gorilas na bruma. É evidente que uma rapariga não aceita, nem quer aceitar, retirar uma pila do seu habitat natural, mas urge que tenhamos em conta a campanha governamental e limpar o mato. Uma pessoa nunca sabe por onde pode começar um incêndio.      

Estas, minhas amigas, são as recomendações que podem fazer a diferença entre uma pila na mão e duas a voar. Há, meus amores, que as ter sempre presentes nas nossas camas.