9.6.23

A Gaffe radical


Após pesquisa, com carácter científico, como não podia deixar de ser, conclui que os blogues dedicados a rapazinhos nus ou quase nus, todos em excelente forma física, proliferam como moscas no Verão ou pulgões na praia.
Aquilo é só clicar que nos aparecem biliões deles com fotos para todos os gostos e feitios.

Também os há com meninas - não se sabe como, mas neste contexto a palavra meninas não soa muito bem -, que nos fazem desejar ser todas lésbicas, mas confesso que sou muito mais exigente em relação aos dos rapazes.

A verdade é que se começa a ter uma certa dificuldade em eleger as melhores fotos. Isto porque os meninos e as meninas aparecem em poses que deixam muito a desejar ou arranjam cara de se me apanhares, levas-me para onde quiseres que eu deixo ou posições de eu sou bom como milho – ou boa, dependendo do cereal - e tu não vales uma baga de gogi ao meu lado ou ainda, e estes são mais vulgares, ai que acordei e tenho o rabinho ao léu. Depois há os títulos que são do melhor: Vermelhas em carne-viva; Marinheiros escaldantes; Duas estrelas e um sonho; Os bravos do "pilotão" ou ainda Para acordar no paraíso.

Confesso que ainda procurei uma imagem que me agradasse para a colocar aqui e dar um ar gaiato a esta depravação, mas depressa desisti.

Ninguém tem paciência para aquilo.

Aquela gente não anda na rua. Nunca me passou pela frente um homem a puxar as calças de modo a que se lhe veja a indumentária mais íntima ou o tridente de Neptuno e nunca encontrei no metro uma rapariga com a barriga para dentro, colada à coluna, maminhas e rabo para fora, agarrada ao varão, embora no metro já tenho visto de tudo.

É desolador.

O mais próximo que estive dum modelo daqueles foi na semana de moda em Paris, quando um matulão, com um ar de italiano que quase me fez tinir o cérebro, se abeirou de mim todo sorridente para me perguntar se sabia onde se podiam comprar maçãs. Eu saber, até sabia, mas aquilo era fruta a mais para os meus dentes. Engasguei-me toda e encolhi os ombros como quem não faz ideia do que o bonitão queria.

Tão idiota que eu fui!

Se não me tivesse apanhado de surpresa, com dois sacos de plástico cheios de pacotes de arroz, massa, farinha e uma garrafa de azeite, dizia-lhe facilmente onde estava a fruta.

Voltando ao assunto, que tristezas não nos pagam o gás.

Da minha investigação resulta um facto: estes mocetões e estas mocetonas estão ali, de rabo ao léu e cara de carneiro que vai ser imolado e já está bêbado para não sentir, só para nos humilhar. Não pode ser outra coisa. Então aqueles frascos existem e nós temos apenas as amostras, ainda por cima sem aquelas tampinhas?! Então aquela gente anda por aí e nós só temos direito a um algodão sem graça nenhuma e que nem sequer é egípcio - exótico, vá?!
Mas acima de tudo: então eles e elas estão ali, lindos de morrer e sãos como pêros, e nós passamos olheirentas, com a borbulha a cintilar e o pêlo encravado, sem hipótese nenhuma de nos sentirmos sensuais mesmo de peluche enfiado no decote ou tacões agulha cravados nos paralelos?!

Que se danem todos.
Decidi hoje não publicar uma foto de gente que até de cuecas ronhosas é humilhante para o populacho.

Nestas coisas sou uma rapariga de esquerda radical: ou come tudo ou ficamos por aqui.