5.9.23

A Gaffe com Tolstoi


É claro que hesito.

Se pensar ligeiramente mais alto acabo por descobrir a mais evidente das verdades:
Não interessa absolutamente nada aquilo que aqui faço, especada frente ao monitor a escoar frases patetas - patéticas, também - que tropeçam e escorregam, acabando esparramadas nos meus braços.

Depois chega, no labiríntico tempo das nuvens e do vento, com a simplicidade doce do início de tudo, a natural conclusão oferecida pela tonta e inocente futilidade que saltita:

Não tenho a veleidade de acreditar que trago as chaves das catacumbas das catedrais da mente e nem sequer ouso falar das catedrais dos céus, com a certeza da existência de alguém a ouvir, babado e interessado, a alterar a vida, a repensar o ser, a duvidar do ego, a rastejar só para me ler, a piamente orar por mais uma palavra, a beber desesperado os despojos das sílabas que repenso, cruzo, entranço, misturo, embebo e torço.

Mas, como diz a Guiduxa Rebelo Pinto: Não há coincidências.

Folheio, neste instante, o labirinto da minha guerra e da minha paz e na vida de Nada que é a minha, recomeço a ouvir o velho russo:

Narra a tua aldeia e narrarás o mundo.

E bem ou mal, atarantada e trôpega, lá volto eu a abrir os portões da quinta.