25.6.24

A Gaffe casamenteira


A Gaffe não é de todo perita na área, mas acredita nos relatos e testemunhos dos seus mais queridos amigos que no altar viram redobrada a paixão que sentiam pela mulher que deslizava envolta em nuvens. Juraram nunca mais ter sentido o aroma daquele dia em que a noiva se tornou sua mulher.

Alguns estão divorciados, mas isso não contamina o que se quer dizer.

Um dos pormenores essenciais a que uma noiva tem de dedicar especial atenção é o perfume que vai usar no dia do enlace.

Importantíssimo.

Há pelo menos cinco considerações que se devem anotar:

1 - Nunca o ter usado. O perfume deve ser uma estreia. Como se depreende, não será de todo conveniente enfiar o frasco dois dias antes nas narinas do rapaz e perguntar se a criatura gosta.

2 - Enfrascarmo-nos, despejando sem qualquer receio o perfume pelo corpo. As flores da igreja vão tentar abafá-lo e é preciso que sejamos nós a calar a porcaria dos arranjos.

3 - Não nos preocuparmos se o noivo revelar sintomas de falta de ar quando nos aproximarmos. Vai pensar que é apenas porque chegamos e a comoção se torna asfixiante. Os convidados que tragam uma botija de oxigénio.

4 - Nunca mais o usar. É imprescindível que abdiquemos do perfume escolhido. O noivo deve acreditar que apenas no dia do casamento sentiu no ar o mais perfeito dos aromas. Se o usarmos quando cozinhamos arroz de polvo ou bacalhau à lagareio, quando nos esbardalhamos no sofá a ver as noivas de Stº António ou a ouvir César das Neves, podemos dizer adeus à cebolada.

5 - Não beijocar as amigas e as convidadas depois de termos despejado o frasco em cima de nós. Os perfumes misturados causam náuseas e não é bonito termos o padre a vomitar-nos o véu.

A memória olfactiva dos rapazes, maior do que a visual, é um trunfo que devemos usar e abusar em dias especiais, marcando-a irremediavelmente, para que no dia em que vamos assinar o divórcio e voltarmos a usar pela segunda e derradeira vez o perfume fatal, o homem perceba que jamais encontrará no bocado miserável da vida que lhe sobra uma mulher que o consiga asfixiar de forma tão perfeita como nós.