10.6.24

A Gaffe nas horas mortas


Na adolescência tive uma paixão com um ligeiro travo depressivo por Florbela Espanca.

Sentia a planície das minhas horas mortas como um brasido torturado e revoltado, sem fontes e sem bênção.
Fui crescendo pedindo a Deus a minha gota de água.
Florbela foi-se diluindo pouco a pouco. A dolorosa canícula do Alentejo da minha alma foi-se povoando por outros poetas perdidamente amados.
Há, no entanto, uma subtil perenidade nas paixões adolescentes. Enformam-nos a vida e é a partir delas que renovamos o sentir. Sentimos o inesperado, acreditando que é original e puro, límpido e por contaminar, ignorando que é previsível, porque se enraíza nos sentires passados.

Nesta charneca de flores incendiadas continuo adolescente nesta procura de pousar a alma numa gota de água.